31 de março de 2009

Olhe para os dois lados antes de atravessar a rua...

Você verá meu número na bina do seu celular
Sim, a partir de agora pode começar a gritar
Estou voltando de táxi só para lhe atropelar

Ouça a buzina!

É madrugada ainda e você está de pijama
Acorda assustado e observa a janela da cama
Não consegue distinguir meu vulto sobre a grama?

Essa é sua sina!

De volta às masmorras onde foi tanto tempo aprisionado
Aquela angústia que lhe mantinha eternamente torturado

Não é bom me ver agora? Liberto das correntes?
Vamos acertar direitinho, em hora, todas aquelas atitudes incoerentes

Começará a carnificina!

Você não está entendendo a situação
Não está observando a sinalização
Eu estou em cada virada
Eu estou atrás de cada sinal
Tenho minha mão preparada
Para lhe conceder um triste final

29 de março de 2009

Every morning's Hope

Revoltas amontoadas pedem um pouco de atenção
(Estou para dizer um palavrão)
Revoltas me barram com suas questões conflituosas de difícil resolução

Meu humor nesse fim de noite grita
É quase sempre assim, o Domingo me irrita

E no final das contas, o que sobra nas pontas
É uma respiração prolongada e devidamente pausada
Pra me ensinar a ter paciência
E tirar as mil teorias conspiratórias da consciência

Quando olho numa direção acima desse chão
Quais são minhas possibilidades de encontrar algo além de vaidades?

Talvez atrasado demais, talvez nunca pensado
Talvez estressado demais, talvez já passado
O mistério prolonga sua existência sobre minhas costas
Arranham minha face as incertezas expostas

E no fim de tudo isso, a grande contradição que vem atrás
Deve ser o fato de eu prosseguir e estar assim, feliz e em paz

Divórcio

Todos os dias nesses planetas
Milhares de histórias de amor são desfeitas
Todos os dias, milhares de planos construídos juntos
Pensados minimamente
Caem por terra, arrebentam suas bases imperfeitas

Todos os dias em milhares de lares
Tantos sonhos delicadamente deliciados
Constituídos por pequenos flocos de esperança
São riscados das agendas

Estou cansado de tentar
Estou cansado de procurar e sempre,
Sempre me enganar
Os ideais lentamente correm para o ralo
A doce inocência deu lugar ao frio piso
À cruel consciência que habita nossas mentes adultas adúlteras

Eu tentei viver sozinho
Mas não suportei vê-lo partir
Quando minha sombra se despediu
De uma pessoa mesquinha como eu

Vou fechar a porta
Vou reabrir o armário
Estarei seguro
Em um lugar onde minha consciência não poderá me encontrar
Estarás seguro
Num mundo onde não corres o risco de me ver ao passear

E, ainda que sem pesares seus
Diga-me ao menos um último adeus...

28 de março de 2009

Como fui nesse dia?

E se sinto em você, esse dissabor
Frágil fio que se faz em mim o condutor

Impossível deixar de gritar
Quando a hélice começar a agitar
Eu serei maior que minha própria projeção

E estarei nadando nos rios caudalosos de sangue
Embebidas as gazes com a pureza natural do mangue
E ainda haverá que se haver forças para postar a indagação

E quando tudo estiver acabando você vai se ajoelhar diante de mim
Vai beijar meus pés e pedir para me abraçar forte
Eu não vou negar esse pedido, eu vou negar esse pedido?
Dependerá unicamente de sua sorte

Eles terão sentido o que significa o substantivo dicionarizado
Amor
Eles terão vivido intensamente o referido, tantas vezes ridicularizado
A dor

E se suas curiosidades pularem à tela
Se o machado chegar a enfim quebrar a janela
Há que se dizer que nem tudo será rosa no caminho
Não, nem tudo será como se postula a imaginação
Mas terão de ler a herança que deixo em meu escaninho
Oh, querido, eu sou maior que minha própria projeção...

24 de março de 2009

O polígono

Já é noite
Minhas brancas alvas mãos
Não alcançam, não respondem
Onde vou encontrar você?

Há mais elementos do que eu gostaria nessa brincadeira
Eu não vejo o movimento
Eu não encontro o centro
Eu me perco no pensamento


Eu sofro por besteira

Já é noite
E por dentro há o desdobramento
Da seqüência inicial
Quando não havia nada intencional
(Éramos felizes desse modo)

Dentro do vidro
Da janela verde de cristal
Presa na parede
Na fria parede da sala vazia
É tão vazia quanto nossos corações
(Estamos ficando vazios)

Se alguém mudasse a cláusula
Poderia acontecer diferente
Mas quem é o incompetente?

Há alguém além de eu e você nesse jogo

Estou sentindo algo dentro
Nada a ver com a teoria fundamental
É um movimento elíptico
O circuito foi fechado, acenderam-se as lâmpadas no quintal
É um jogo interessante
Enquanto há a penumbra
Que camufla minha imaginação incessante

Há algo além por aqui
Não deveria estar solto no quarto
Eu fechei as cortinas
Mas a imagem continua sobre o pano
Meu travesseiro possui uma tênue linha cortante

E vem ao encontro da minha boca
E há a possessão
A fuga pós-obsessão

E vem ao encontro da minha boca
E joga pra longe minha roupa

Edição 41

Parece ser fácil
Tornar prático o que está escondido

Parece fácil me fazer rir...

(Você não sabe o que está perdendo)

Eu vejo nuvens
Brancas algodoadas circundando o poste
Abaixo delas árvores de folhas verde-douradas
É muito oxigênio que elas vão te tirar
E vê-lo-ei sem respirar

Parece ser fácil
Pensar-nos nessa interdependência
Vamos modificar o primeiro traçado
E forjar o que nunca foi inventado

(Você não sabe porque já deveria estar temendo)

Eu quero muito
(Muito, muito mais)
Quero o minuto
Quero a sua paz

Eu quero a voz
Quero senti-la na minha garganta
Possuí-la
Quero te ver rastejando
Mudo no chão

E não vai estar implorando...

Eu quero a vida
Quero ser a Quinta Avenida
Quero lhe causar inveja
Quero controlar seu pudor
Eu quero muito
(Muito, muito mais)

E por baixo da roupa que me traz
Há um espírito que me trai
Me dá voltas e me atrai
E eu não vou fracassar
No ideal sem ideal
No porquê sem motivo
Nas respostas desorientadas sem encontrar suas perguntas

Mais, muito mais

(Você está derretendo)

Eu não me vejo
O espelho deve estar quebrado
E se eu fraquejo
Está no chão meu corpo desmanchado
Estraçalhado pelos chicotes
Pelos tambores éticos

Parece fácil
Mas ao acordar já é manhã
Eu te sigo
Sem perguntar se você quer minha presença pelo caminho
Não pode me culpar
Se sou assim maníaco

Parece fácil
Mas ainda vão classificar

(Você vai adivinhar o que está parecendo?)

Mas a escada é curta
Eu vou subir mais
Quero enxergar mais
(Mais, muito mais)

Mais, muito mais...

Muito mais...

23 de março de 2009

Somos só eu e você

Mês que vem talvez eu te faça uma visita
Mas não se preocupe com ela antecipadamente
Minha vontade de te abraçar é a garantia, bonita
E enquanto isso vou lhe escrevendo carinhosamente

Na altura da noite a que estamos
Eu te vejo da piscina, sentado no alpendre junto a...
Você olha para o céu, você lê a Lua, admira-a
Na altura da vida a que chegamos

Essa é uma experiência romântica
Feita num país de fronteira atlântica

Está tão perdido lendo a noite na cama
E eu te observo escondido no lustre
E estendendo a mão até tocar seu lindo rosto de dama
Não sei se desço daqui, serei um convidado ilustre?

O ponteiro do relógio move-se lentamente
E meus passos ecoam nas tábuas enceradas do corredor
Minha insônia me ataca quando te sente ausente
Minha mente borbulha idéias noturnas e sem pudor

Esse é um caso mais forte que minha noção
Quando o controle do dirigível é tomado pela emoção

Meus pés juntos e abraçados
E finjo estar me distraindo vendo o OVNI da minha sacada
Minha boca, meus olhos, todos amordaçados
Para não externalizar com um grito a saudade marcada

Você com um lindo sorriso, dormindo
Sobre o telhado, sob as constelações
E eu passo ao lado, lhe beijo e vou subindo
Aonde estão unidos, entrelaçados, os corações

22 de março de 2009

O desbravador amador, o tabaco em seu último ato, e as demais signifcações subsequentes


E de repente me deixaram abandonado
Nesta estrada longa e longínqua onde nada vejo
Além de areia dourada por todo o lado
E o sol escaldante sobe sobre meu anseio

O dia sorri para mim com um olhar promíscuo
E há a dúvida entre batalhar ou ser submisso

Então fiquei aqui largado
Trazido às forças para essa fronteira
E até agora ninguém parece ter notado
Minha ausência, minha falta ao redor da fogueira

Triste constatação, perceber que sua presença
Não é digna de adoração
Triste destino, morrer sem atenção

Estou aqui perdido
Nessa fronteira de dois mundos
Andando meio escondido
Dos sóis que me queimam, dos lobos imundos

Já chamei Deus para um chá ao fim da tarde
Quando não se tem mais nada a fazer
Além de procurar algo interessante pra ver
Quando não há ninguém com quem discutir a vida em Marte

Permaneço no limiar de uma nova descoberta
Do horizonte que se apresenta a minha frente
Mantendo minhas expectativas sempre em alerta
Dizem que vou encontrar águas empoçadas em jarros
Ou conversar com os fantasmas radicados nesse distante presente
Mas me preocupo agora com algo mais iminente
O triste e irreversível fim dos meus cigarros

19 de março de 2009

Auto-retrato desmoronado

I)
Estou de novo caminhando sozinho
Na estrada de sombras
Estou de novo sentindo a ausência da mão
Que costumava se apoiar no meu ombro

Chutando latinhas no meio da rua
Não parece ser fácil agradar a Jesus e a Judas
Meus passos estão mais silenciosos
O resquício da vida se me esvai

Eu não poderia pronunciar de cabeça erguida a dura verdade
E se você não pode ouvir,
E se a compreensão lhe foge
É melhor que continue a me espreitar pela fechadura
Sem chegar perto
Com a chama da vela distorcendo o que realmente pareço


II)
Eu acordo todos os dias
Com a velha música de fundo
O tempo passou
Os amigos se foram
Mas a música continua

Minha invalidez mental
Me persegue e me ilude

Às vezes perdido nos sonhos não realizados
Ou nos sentimentos improvisados

Os meses passam
E eu continuo aqui me culpando
Poderia ter sido mais bravo
Poderia ter sido malvado
Poderia ter tomado a rédea da situação

Mas na ânsia de ser bonzinho
Deixei que guiasse meu caminho
E me fizessem menor
Menor ainda que o que o espelho me mostra

E se hoje me chamam de estranho
E se espantam com minhas ações
O que fariam
Se soubessem que flerto com o suicídio?


18 de março de 2009

Imortal o amor, ou são apenas memórias?


Após as tormentas iniciais
Eu viajei por esse universo
Procurando minha casa
Eu tive medo e frio
Eu tive sonhos ruins à noite
Eu pensei que não existisse mais para você

Não me lembrei a princípio
O que o amor nos causou
Não me recordei após a luta
Quem de nós trapaceou

Então enfim cheguei aqui
Depois de ter passado por indiferenças
Por desgraças que me fizeram perder a esperança

Querido, estou aqui, sou eu ainda
Querido, estou acenando para você na janela
Eu não sinto mais a pele sob as roupas
Mas posso ver seus olhos receosos
Posso sentir a pulsação

Queria entender, de uma vez por todas
Por que essa frieza?
Onde foi parar a clareza?

Quando entraram todas essas mentiras?

Se tivesse me dito que só queria que eu saísse
Eu me afastaria de seu caminho
Eu lhe livraria de todo o tormento que me tornei
Eu não proferiria maldições à sua reputação

Mas agora
Querido, sou eu
Sou eu ainda
Estou aqui, parada com as mãos na vidraça
Deixe-me entrar, deixe-me abraçar as crianças
Deixe-me lhe beijar ao menos uma última vez
Ainda sinto um sopro de vida

Querido, deixe-me entrar
Estou com frio, estou faminta, estou com a pele transparente
Querido, minha imagem à mostra em sua janela
Não pode ver que estou batendo à porta?
Ainda sou a mesma da foto na pedra de mármore

Coração destacável

Determinado e caótico
Despretensiosamente metódico
Ele invade o sistema
Ele muda os códigos

Ah, afetivos códigos

Ele coleciona sentimentos
Na sua agenda de relacionamentos
São práticos, rápidos
Ah meu Deus, aqueles olhares ávidos

Nenhuma entidade ele representa
Ele não segue nenhuma outra ementa

Coração papel, amores de agendinha
Presos todos entre linhas de rendinha
Ele se acha no direito de evocá-los
Com a intenção de usar, exibir, sugar e depois guardá-los

“Não se apresse com meu riso
Não sabe quanto com suas declarações eu me divirto
Cartas deixam atrás de si os rastros de romance e inocência
A presença não deixa de ser imponente, mas não há expoente
Volta para a gaveta e me espera, se eu quiser te ter novamente
Ó doce alma carente”

Ah, afetivos códigos
Inoculados em dizeres pródigos
Vazios como a alma daquele que os invoca
Nem de longe respondem à intenção de quem os provoca

Demasiadamente inatingível
Ele mantém sua mão tangível
À espera da primeira oportunidade
Ele fala, ele dá nome, telefone e idade
Ele promete o amor que não possui
E não se importa pela lágrima que flui

16 de março de 2009

Pisância

I) Breve introdução, negada à verdadeira intenção da subseqüente narração

Repressão
Depressão
Enquanto correm nos pântanos e sujam a meia de barro
As mães esquentam as rãs e as mãos com o anel de noivado
Estragam

Suspeição
Pretensão
Enquanto afogam-se nas águas cobertas de nata e sal
Galopa o traidor segurando a lança firmemente sobre o animal

Pisância

Tocam os órgãos eletrônicos de fibras de vidro
Triângulos escalenos sob comando entrando em revolta
No terreno da Primeira Dama seus iniciais sinais de necrófila


II) Na cozinha de Pisância

Sob a dormência da mão
Pisância rema sobre sua vassoura rumo ao porão
Passa pela cozinha de visualização escura
Onde uma negra escrava se empanturra
Eleva-se sobre a geladeira azul, a fim de evitar uma colisão

Dentro do forno assam-se biscoitos
Os pobres lá dentro, afoitos
E na mesa amadeirada de tábuas rajadas
Presencia-se a dolorosa morte do queijo
Assassinado a facadas

15 de março de 2009

Teso romance

Ela te vê com o copo na mão
E tenta decifrar o que te assusta
Se é a sua presença astuta
Ou a possibilidade de solidão

Hoje à noite, as portas estão abertas pra você

E você está parado na porta
Pensando o que pode sair dali
Daquele violento olhar que te corta
E te faz sentir desnudo no meio da sala, fora de si

Hoje à noite, as portas estão abertas pra você

Mas se centrar seu pensamento
Sabe que vai querer ceder
Retire a máscara de fingimento
Quer perguntar a ela o que vão fazer

Hoje à noite, a noite é dela, só pra você

É um pouco tarde demais para pensar no futuro

Constrangendo aqueles que o amaram
O errante ignorante marcou seus passos
Ao redor dele, uma aura de medo
Dor intensa e insegurança o assombravam
E até hoje, quando tem a impressão de um lampejo
As nuvens carregadas o cegam e cobrem novamente sua visão

Homem desesperado
De atitudes inconseqüentes que beiraram a demência
A constante decadência
Onde fora parar sua decência?

Caminha solitário
Na estrada de piche quente
De sua boca saem fumaças intoxicantes
De seus olhos o olhar que condena
Que extrai a esperança do próximo
E contrai sua vida à rotina do ócio

Ele procura incansavelmente os braços da mãe
Sem conseguir enxergar com clareza à sua frente
E ele acredita sê-la aquele anjo reluzente
Mas já está tão tarde e frio
E nesse imenso vazio, pra onde ele partiu depois do golpe final
Não se acredita haver agora uma solução moral
Que satisfaça ao espírito insano do suicida
Uma vez tendo abraçado a morte
E deixado de lado sua vida

12 de março de 2009

Transcendental gratidão

Começam o dia com banhos gelados de auto-estima
E conforme o tempo vai passando o sentimento se dissipa

O que foi congelado uma vez há muito tempo atrás
Magicamente se dissolve e se desfaz
O que julgaram importante certa época
Cai por terra e ninguém o coleta

Ah como eu queria adormecer novamente
E acordar com o corpo amarrado, torpe, na corrente

As eras passam, mas as lembranças não se apagam
O que era bom e duradouro, essas memórias não se estragam

Ah como eu queria adormecer novamente nos braços
E me despertar com o corpo adormecido envolvido em laços

O que foi prometido, quando os pés estavam unidos
Sob a liderança inflamável da paixão
É o que será resgatado, com a ousadia e bravura da emoção
Porque se uma vez dei minha atenção, agora seus passos são por mim protegidos

Pedófilos

Me dá uma dor no coração, ela disse
Uma faca transpassada em meio ao peito?, ele pergunta


Há uma história que vou contar
Não, não é estória de ninar

Há um caso a se desvendar
Quando eles começam e não querem mais parar
Não sei se tenho nervos pra escutar

Doces caminhos são feitos para serem seguidos
Todos estão atrás de alguma coisa melhor
Todos estão atrás dos pobres pequeninos desprotegidos

A frágil criança já caiu do berço
Não adianta mais chorar as lágrimas amargas
Vocês agora só se verão no dia do acerto
E, acredite, ela estará segurando o terço

Medo

Medo do acerto
Medo do escuro
Medo da falta do escudo
Medo

Então eles ajustam seus interesses no grêmio
E em você há algo que chama a atenção
Vão por a sua cabeça a prêmio (?)
Talvez seja mera impressão

Quando eles começarem
Não vão mais querer parar
É uma linda estória de ninar
Quando escorrer o doce caldo e as línguas se cansarem

Há algo que não devo comentar
Acho que nem vou precisar

Quando atiçam a crueldade
Segurando os doces pirulitos da maldade

Medo

10 de março de 2009

Eternidade, ou algo maior assim

Luzes brilhantes
Pessoas que circulam um núcleo vazio
Há gritos dissonantes
Ao verem que procurar o porquê agora é demasiado tardio

Árvores de lembranças
Remotas e profundas
Por que me evocam longínquas esperanças,
Se já são inúteis e moribundas?

Eles estão procurando
Por algo que os faça melhor
Um coletivo que roga se tornar maior
Mas vão assim se cansando

E em seus olhos vejo
A fuga do ardente desejo

O tempo está passando depressa
E a busca parece logo chegar ao final
E que lhes abençoem as entidades
Se no fim do livro constarem as verdades

Punishment from mom


Mamãe, mamãe
O que está errado em mim?

Talvez eu não tivesse sabido direito
Como proceder naquela época
E tenha deixado que tomassem minha cabeça

Será por isso que estou batendo na parede
Derramando lágrimas sobre a mesa?

Filhinho, filhinho
Talvez você pudesse ter me escutado melhor
Eu não o deixaria hoje padecer assim
E eu tentei te avisar, e pareceu ser incapaz de compreender

Agora você perde dia após dia sua vida
Em atitudes sem objetivo
Em ações sem resultado
E eu observo com segura distância
Seus dedos caírem um a um
E você continuar dando murros na ponta da faca

Mamãe, mamãe
Será que se eu gritar, você vai querer poder escutar?

Estou sentindo frio aqui fora
Meus olhos têm ficado cada noite mais embaçados
E eu tenho medo de não poder mais enxergar

Filhinho, filhinho
Todos têm sua chance de provar valor
Mamãe sempre por você se encantou

Mas é tempo de a vida lhe bater

Sua hora já é passada, e minhas asas agora são passado
Vá se perverter
E me deixe enfim viver

6 de março de 2009

Descaso

Então acenderam a luz
Procurando o que seria realmente um pecado
Entraram apressados
E cegos pela suas obsessões
Não perceberam que pisavam a mão de tantas crianças inocentes
Presas no chão por frias correntes

O mundo tem surpreendido a todos
Quando os interesses são colocados em jogo
E sabemos que a mesa não dará lugar aos derrotados
Aos cansados e aleijados

Na fila para a execução
Além dos berros e suspiros de perdão
Os importantes poderosos governantes,
As pessoas que olhavam de cima,
E as mãos suplicantes
E num gesto de vaidade
Todos viram os rostos
Quando desce a lâmina sobre o pescoço do meliante

É triste ver como
Sem que ninguém possa perceber
A sombra tem tomado conta
Os princípios se esvaem
E já não há alguém a nos proteger

[Pausa, clamores, e reflexão]

Não, não há mais perdão
Em nenhuma outra ocasião
O fraco e o desprovido perecem
Sob nossos pés e nossas vistas
E nenhum de nós quererá abaixar para lhe dar a mão
E nenhum de nós se importará com o sofrimento alheio
E, jogados como os deixaremos
Ficarão longe, para não despertarem nosso vil receio

4 de março de 2009

Doce sonho

No seu mais doce sonho
Eu estarei no alto da colina
Cantando para você uma encantadora canção

Ah, há há há

No seu mais doce sonho
Eu estarei te observando à distância
Soprando hipnotizantes sons na sua direção

Há há há

Interessante como não percebe
Que tudo não passa de uma gostosa ilusão
Alguns gostam de ser iludidos
Outros sabem iludir
Ou se iludir

Nas asquerosas mesas de transplantes
Quando estiverem lhe escolhendo um novo coração
Eu estarei lá presente em minha oração
Ou com meu exército de lanças perfurantes

Eu sou o ataque à sua noção
Quando você se perde na clareira
E se ajoelha com medo da lua cheia
Sou eu quem está no comando da emoção

Alguns gostam de ser iludidos
Outros vêem o que não querem
De olhos fechados, para que não se desesperem

Outros não querem ser acordados
Para uma realidade em que se ferem
Deixemo-los presos então
Num mundo de imaginação

Se eles se acham a salvo
Entre as paredes do doce sonho

Mas quando vier a noite
E você entrar novamente no seu transe perfeito
Repito que continuo no meu estado de respeito
Estou acima da colina, segurando com firmeza a foice

Eu me balanço no supostamente delicado fio
Que segura seu mundo e lhe mantém confiante
Que esse doce sonho manterá afastado seu calafrio


2 de março de 2009

Trivial, mas indomável

Se o homem bom
Que vive em luta contra o maldito despertador
Percebesse o que é viver sem amor
Não desperdiçaria tudo o que ela lhe ofereceu de coração aberto

Mas é tudo questão de tempo
Até as coisas se postarem da maneira correta
Aos lugares devidamente lhas destinados no assento

E se as crianças dançando ciranda
Não tirassem da cabeça a idéia de perseverança
Talvez fosse mais fácil aceitarem
Que as folhas caíssem nas datas corretas
E os devidos malefícios que por ventura essas e outras coisas acarretarem

Mas não fosse a galinha
Conversando a tarde toda com a doninha
Não teria ficado o gari tão assustado
Esse, coitado
Acostumado ao vai-e-vem do dia-a-dia
Não ocupado com a alheia agonia

E também ninguém previa
Que numa tarde mediana de primavera-verão
Quando os conscientes fritavam ovos no chão
Algo pudesse desambientar a tradicional tapeçaria

São as coisas mais ou menos assim
Não preocupamos mais com o trivial
Tudo era muito sem graça quando normal
Estou muito melhor agora que não faço uso do Dramin

E se a esposa perfeita parecer uma armadilha
Talvez ela realmente só queira a partilha
Do que foi formado antes do ideal
Ou mesmo mesclar nas sombras e deixar a dúvida
“Até onde vai o real?”


E por fim aconteceu que no meio da rua
Sem pressa alguma, sem vergonha de ser nua
Atravessou, em passos leves, a senhora
E todos saíam das lojas para perguntar “E agora?”

Acabei ficando sentado na calçada
Pensando como fazer para ir pra casa
Agora que não há mais mulher casada
E o negro guarda-chuva se abre imponente
Ainda não chove, mas o céu ameaça
E eu aqui, impotente
Dispo-me de toda possível trapaça

E te espero pra voltar pra casa