29 de outubro de 2010

Together, hand in hand

Não, não corra de mim! Não vê que para sempre o escuro poderá me tomar, e será difícil encontrar meus pedaços jogados à revelia?

Vem, pegue minha mão. Estou à sua espera, estou orando, estou jogado no chão. Às vezes é mais difícil suportar, às vezes só o cigarro pode encobrir minhas vistas encharcadas...

Não, não permita que mintam para você. Porque eu sou melhor do que dizem, porque eu preciso ter a chance de provar a força que emana desse coração sedento por amar. Não, não corra...

Olhe à sua volta. Os arames estão apertados nos pescoços deles, e eles são infelizes. Mas meu sol brilha soberano, e isso é tudo o que eu posso lhe oferecer... Um castelo, minha companhia e café na cama todo dia...

Pegue minha mão.
 
 

Calmaria

Passada a dor do primeiro momento, ele suspirou. Não era como antes, havia agora uma barreira entre todo o resto. As cores se desvaneciam, o céu era enegrecido. Sempre o fora? Não.

Passada a dor primeira, as gotas de chuva caíram de suas pálpebras. Eram chuva realmente? A mão, precisa e firme, deslizava errante pelo corrimão, enquanto os pés subiam e desciam, galgando gradativa e descendentemente os degraus. Abaixo, sua visão era limitada. Estavam encharcados os olhos, ou ele simplesmente não queria ver? Queria ele ver, mas não via porque os olhos estavam encharcados, e ele não se deixava admitir? Perguntas dispersas...

Elevou a cabeça à altura da janela. O vidro estava respingado das gotas, as árvores balançavam com o vento forte. Lá fora era uma tormenta, mas aqui, bem aqui dentro, era a. Como se todos os eclipses começassem a pulsar com força, jorrava de dentro uma indignação desesperadora.

Acalmou-se, acendeu um cigarro, deixou limpar-se pela fumaça. As pontas achatadas dos dedos batucavam com desarmonia a superfície da mesa de madeira. Era mais ou menos assim o fim das eras? Essas eras inteiramente humanas, inteiramente internas. Ele era todo melancolia.

Passada a dor do primeiro momento, clamava-se por reflexão, e a calmaria não tardou a vir. Dias depois, o sol brilharia através das cortinas. Dias depois, ele as arrancaria com força, e o sol se voltaria com glória para sua face. Iluminara-se, como há muito tempo não se via. Radiante, galgou as escadas da satisfação; elegante, pisou firme seu terreno conquistado. Os enigmas permanecem, os mapas estão todos aí, camuflados nas paredes, enterrados nos cruzamentos das duas consciências. Ele era todo esperança.
 
 

20 de outubro de 2010

Años (Mercedes Sosa & Fagner)



O tempo passa e vamos ficando velhos
E eu não reflito o amor como ontem
Em cada conversação, cada beijo, cada abraço
Se impõe sempre um pedaço de razão

Passam os anos e como muda o que eu sinto
O que ontem era amor vai se tornando outro sentimento
Porque, anos atrás, tomar tua mão, roubar-te um beijo
Sem forçar o momento
Fazia parte de uma verdade

O tempo passa e vamos ficando velhos
E eu não reflito o amor como ontem
Em cada conversação, cada beijo, cada abraço
Se impõe sempre um pedaço de razão

Vamos vivendo vendo as horas que vão passando
Velhas discussões vão se perdendo entre as razões
A tudo dizes que sim, a nada digo que não, para poder construir
Essa tremenda harmonia que põe velhos os corações


Porque o tempo passa e vamos ficando velhos
E eu não reflito o amor como ontem
Em cada conversação, cada beijo, cada abraço
Se impõe sempre um pedaço de temor

Vamos vivendo vendo as horas que vão passando
Velhas discussões vão se perdendo entre as razões
A tudo dizes que sim, a nada digo que não, para poder construir
Essa tremenda harmonia que põe velhos os corações

O tempo passa e vamos ficando velhos
E eu não reflito o amor como ontem
Em cada conversação, cada beijo, cada abraço
Se impõe sempre um pedaço de razão

Porque o tempo passa e vamos ficando velhos
E eu não reflito o amor como ontem...

[Pablo Milánes]