7 de julho de 2011

Eu e o reflexo que não me deixa mentir

“Pela lateral entrei, saio pela porta dos fundos. Sem ser notado. Sem ser sentido. Uma aparição, uma sensação que escapa, que não se pode reter com os dedos. Algo que falta, mas não se sabe exatamente o quê...”


Nem quis, assim, dar muita importância a minha presença. Mas é que é difícil negar o que a gente sente. Pulsar vivo e constante, esse rubro olhar que os persegue. Sim, sou eu nessas noites quentes, sou eu com uma taça quebrada nas mãos, completamente desorientado. Desorientado.

Não, não é uma revolução. É mil vezes o passar de uma pessoa só. Não se espante. Não consigo ver além do que me foi destinado enxergar. Não sou ruim e nem deixo de me importar assim, sem nada. É só prestar a atenção na essência, há algo de equilibrado por aqui. Equilibrado.

Todos correm, é uma desordem, eu não sei se estou participando. Não fiz sexo com todos os caras que estavam aqui, e agora? Quisera eu estar dirigindo aquele ali, mas gastei mais do que podia com prazer pessoal e por vezes rápido demais. Prazer que escapou num sopro de vida, num jorro de milagres. Deveria retroceder e mudar estes feitos? Até que ponto sentir o gosto do pecado na ponta dos lábios me deixa arrependido?

Sou enrustido em fumaça. Se você consegue me ver, está pertencendo a um círculo tão complexo quanto jamais poderá racionalizar. Está, na verdade, inserido em uma roda seleta. O que não lhe dá garantias, o que não lhe concede privilégios. Ninguém é o que realmente parece por aqui. Eu sou a fuga, eu sou a inconstância. Eu estou a passos largos, você me acompanha sem perceber. Desorientado. (Eu?)

Esse tempo todo, eu só estava brincando de seguir minha sombra. Será que trouxe multidões desenfreadas para junto do meu caminho? Mas se eu era todo o tempo aquela inocente criança que quisera somente se divertir com seus brinquedos sexuais, isso fará de mim um menino sem presente de Natal? Será que exagerei em algum ponto?

Enquanto eu ligo o fogo e acendo tantos cigarros, queimo as pontas dos cabelos dos mais curiosos. Aparentemente não estão me dando atenção, aparentemente estou só, jogado às traças dos meus carpetes. Afinal, quem sugou até o talo, quem secou a última gota? Quem são os maiores beneficiados? Por ora, minha garganta cortada não poderá responder por mim. O que fizemos nos escombros do ritual da pureza? Sangram por dentro todas essas lembranças... O culpado não sou eu.

Estou saindo, pela porta dos fundos...