2 de novembro de 2013

O Rei, destronado

Mas de repente uma névoa de umidade e tristeza moveu-me céus e terras, abriu brechas largas no meu coração pequeno, este betume. Os olhos molhados, o olhar cansado, a visão turva. E via turmas e grandes corjas movimentando-se para cima, movimentando-se para baixo, num passeio de vai e vem, risadas, lágrimas, braços dados, pernas jogadas.

Tenho cadeiras de madeiras que não falam e um jogo de talheres que não são de prata. Mas me pouparão da solidão quando o último tiver se levantado da minha cama dura, esta que não consegue reter ninguém por mais de alguns minutos. E uma névoa me cobriu os olhos por alguns instantes, e nem muitas toalhas de muitas lojas de departamentos os conseguiriam desanuviar.

Garrafas na mesa fazem parte de uma decoração antiquada, onde tudo já está posto onde está e as paredes gritam palavras de conformação. De repente a casa fica apertada, de repente as paredes se distanciam e o cômodo fica grande. Cortinas retorcidas pelo vento, este vento, esta tormenta que vibra as janelas e levanta os tapetes. Tapetes voadores pela casa, panos estalando no varal, chicoteiam o ar e a mim.

Contudo tenho chaves e outros cigarros que me pouparão do desfecho triste quando o último tiver voltado a si e, numa repulsa automática depois do prazer barato, levantar-se e dirigir-se à porta num só golpe. E a porta, misericordiosa, mantém-se aberta à espera de alguma brisa que queira varrer da casa o cheiro de glória murcha.


Algumas filosofias baratas, aparentemente ridículas, e os cigarros permanecem.