Mas de repente uma
névoa de umidade e tristeza moveu-me céus e terras, abriu brechas
largas no meu coração pequeno, este betume. Os olhos molhados, o
olhar cansado, a visão turva. E via turmas e grandes corjas
movimentando-se para cima, movimentando-se para baixo, num passeio de
vai e vem, risadas, lágrimas, braços dados, pernas jogadas.
Tenho cadeiras de
madeiras que não falam e um jogo de talheres que não são de prata.
Mas me pouparão da solidão quando o último tiver se levantado da
minha cama dura, esta que não consegue reter ninguém por mais de
alguns minutos. E uma névoa me cobriu os olhos por alguns instantes,
e nem muitas toalhas de muitas lojas de departamentos os conseguiriam
desanuviar.
Garrafas na mesa fazem
parte de uma decoração antiquada, onde tudo já está posto onde
está e as paredes gritam palavras de conformação. De repente a
casa fica apertada, de repente as paredes se distanciam e o cômodo
fica grande. Cortinas retorcidas pelo vento, este vento, esta
tormenta que vibra as janelas e levanta os tapetes. Tapetes voadores
pela casa, panos estalando no varal, chicoteiam o ar e a mim.
Contudo tenho chaves e
outros cigarros que me pouparão do desfecho triste quando o último
tiver voltado a si e, numa repulsa automática depois do prazer
barato, levantar-se e dirigir-se à porta num só golpe. E a porta, misericordiosa, mantém-se aberta à espera de alguma brisa que queira varrer da casa
o cheiro de glória murcha.
Algumas filosofias
baratas, aparentemente ridículas, e os cigarros permanecem.