Em algum lugar entre a xícara de café e a brasa fumegante do Marlboro eu me perco.
Os olhos estão bem fechados. E meu corpo está girando na imensidão escura pra onde minha mente sempre me leva quando meus olhos estão bem fechados.
Com os braços abertos, pego velocidade e viro o leme imaginário para a direção que eu quero. Não sei qual a direção eu quero.
"Por favor, mais uma xícara cheia de café!"
Nado em direção à borda da xícara para não me afogar no café, mas acabo saindo de lá escaldado. Melhor sentar-me na folha que vejo à minha frente. Não é tão grande, mas dá para escalar com facilidade e ficar ali toda a noite obsevando a Lua.
Subo na formiga que passa e me oferece carona para um galho mais alto. Subo mais e mais e mais e mais. Na ponta da última folha do último galho do último tronco vejo até a última estrela do horizonte. E vejo a Lua, majestosa.
Meus olhos estão fechados.
A outra mão se fecha esmagando a moeda de chocolate que outrora carregava no bolso. A tensão da mão e a temperatura do corpo recém saído do café faz o chocolate, antes moeda, derreter-se e escorrer pela imensidão escura pra onde minha mente sempre me leva quando meus olhos estão bem fechados. Bato a brasa do cigarro no cinzeiro de porcelana preta. A fumaça se confunde com a do café e ambas me elevam novamente até a última folha.
"Por favor, traga-me o isqueiro e a carteira."
Ao som da gaita continuamos a viajar por esta estrada desconhecida. Ela é povoada de árvores de lembrança e imagens conhecidas não mais reconhecidas. Continuamos a seguir rumo ao desconhecido. Mas é tão familiar como odores de café-da-manhã.
Fazemos parada em casas e lugarejos conhecidos, mas 'inda não atingimos nosso objetivo. Ele está lá, atrás de cada nova curva desta estrada que não vejo. Está logo depois daquela subida que corta nossa visão imaginária.
Os olhos estão bem fechados.