[Imagem: Pixabay]
A MÁQUINA DE ESCREVER
há papéis espalhados, desordenados, como as ideias. povoa o ambiente a nuvem espessa e aromática das xícaras de café derramadas e sorvidas pela alma. no canto da sala eu me escondo em meio à fumaça. há muito o que fazer, há muito o que ler. há muito o que pensar.
7 de junho de 2022
Um dia você vai me agradecer por tudo
[Imagem: Pixabay]
14 de janeiro de 2022
interlúdio 2022
não preciso mais dos seus conselhos
não acho
que me reconheço neles e nem nos de ninguém
aparentemente
não me reconhecem também
as coisas que fiz
os
lugares que vi
não
cabem nos julgamentos seus e de ninguém
não
preciso mais do seu sorriso
enaltecendo
quando fiz o que esperavam
seguindo
um script para não enfurecer ninguém
não
preciso mais das longas conversas de desabafo
que me
distraíam enquanto o fio do telefone se enroscava
para,
num outro dia, atar minhas mãos a seus caprichos
de
repente, não preciso mais
estou
bem aqui, vendo só até onde a definição permite
conversando
com meus botões, dedilhando na mesa de madeira
refletindo
por dentro da xícara, por dentro de mim
os
enlaces que fiz
os
lugares que vi
as
coisas que senti
os
vexames que eu dei
as
pessoas que amei
não
cabem no seu julgamento, no seu e no de ninguém
[Crédito da imagem: Pixabay]
5 de janeiro de 2022
Unspeakable
Coração, órgão do meio, que [dizem] fala pelo cérebro, o verdadeiro responsável
Fala palavras não entendíveis
Diz, com o ritmo, em códigos
Sentenças impronunciáveis
Verdades condenatórias
Coração, órgão do meio do peito
Peito que aconchega e recebe
Peito que respira, inspira e expele
Coração, órgão tão namorado
[E maltratado pelos hábitos alimentares ocidentais]
Fala por sua própria língua
Palpitações que, por sorte, só eu entenderei
Em códigos que, depois, a memória sofrerá para decifrar
Verdades condenatórias, afirmações tão necessárias
Do meio do peito, que aconchega e recebe
Que se sensibiliza ao tato
Que esfria com as correntes de tormentas
E guarda com zelo quem mais merece seus cuidados
Sentenças impronunciáveis, verdades condenatórias
Afirmações tão necessárias, que só eu entenderei
23 de julho de 2021
Vampiro
[N.A.: Em algum momento da existência, na vida ou além dela, vampiros somos todos]
O equilíbrio entre não sentir muito e permanecer sentindo é um ritual de todos os dias. A delicadeza de absorver e receber os sorrisos percebidos em volta, de se envolver na multidão de pouca ou muita gente sem se deixar de lembrar que no fim da noite é mais um dia sem retorno, com a cabeça afundada em travesseiros e o tato vazio.
O equilíbrio entre sentir muito e não afogar tudo em volta é uma reza de joelhos nos chãos. Todos os dias. A sensibilidade de se levantar depois do tombo, rindo entoando a graça sem graça de um pequeno vexame, enquanto por dentro os ossos trincados por outros tombos rangem seus próprios dentes.
É na tentativa que reside o cotidiano. De pegar sua mão e olhar com uma distância segura, evitando que os olhos traguem e sorvam de uma vez a alma que alcançam quando as pupilas estão alinhadas. Se inevitável, melhor que seja pouco a pouco.
A quebra do equilíbrio provoca rachadura da unha do dedão ao maxilar, e nessa quebra tudo vai ao chão, mesmo que o espectro continue fazendo sua performance, holograma inteiro e intacto de mãos abertas e dispostas. O martírio de se mutilar pelo fio perdido da meada muitas vezes vai chicotear mais fundo que os estragos que poderia fazer o solto fio, debatendo-se em faíscas e sem controle.
No fim da noite é apenas mais um dia sem retorno. O tato vazio é real e sobrepõe-se a quaisquer estímulos nervosos que podem ou não haver. A mente brilhante permanece acesa a quase todo o tempo, irradiando uma luz nauseante. Os olhos abertos mesmo quando nada se pode enxergar, fitando e remoendo, planejando e riscando, esperando que se cumpra o de sempre, mesmo sem ninguém a pedi-lo.
É em quando falha a tentativa que reside minha miséria. De buscar seu rosto no cotidiano e não mais compreender como era. Fagocitado pela euforia que não pude conter. De ver se esvair, como areia na ampulheta sem fundo, os sorrisos que absorvi e incorporei sem poder impedir. E agora sem expressão o seu corpo, mesmo que ainda ao alcance do meu enlace, no ato que encerra minha própria tragédia.
O equilíbrio é uma utopia de todos os dias.
23 de janeiro de 2019
Felipe
13 de dezembro de 2018
A criatura como a deseja o criador
10 de dezembro de 2018
No escuro
Fonte: Pixabay |
28 de fevereiro de 2018
O olho na palma da mão
30 de janeiro de 2018
Expansão
Agora,
28 de junho de 2017
Com doce voz
6 de junho de 2017
Passada rasteira
15 de fevereiro de 2017
Mariposa
Com tanto brilho saindo do olhar de agora, prevejo que tenha de usar óculos escuros para não ofuscar outras faces. Estendo, dia após dia, os pés para fora da cama, inundado de uma interminável manhã, e contemplo meu próprio despertar. Arrebentei o casulo.