É noite e estou em meu
quarto, sozinho. É noite, e o medo me distrai. É noite sozinha em
meu quarto, é noite neste meu quarto sozinho. É noite.
Era noite naquela
época, naqueles dias frios, quando eu apertava a mão contra o
parapeito da janela azul. Era noite naqueles dias de inverno, quando
tudo era incerto. Vivíamos em uma era de desertificação
sentimental. Era eu mais Eu do que agora? O que fez?
Para onde foram levados os sonhos juvenis?
Parte I
“Eu sei que estou
andando aqui mais de uma vez. Parece que o sol já se pôs assim, não
parece, Alfredo? Eu lembro de ter calcado essa pedra no peito do pé,
era assim, exatamente assim... Não faz muito sentido...”
O que sabemos do tempo,
ou do universo, ou o que sabemos de Deus, ou de deus, acho que é
muito pouco ainda – ele falava, sozinho, enquanto percorria o dedo
na superfície verde das folhas. Alfredo estava muito mais distante –
de si e dele – durante essas indagações, e nenhuma resposta seria
ouvida. Sua atenção foi desviada para umas borbulhas formadas na
superfície estagnada daquela poça de água barrenta no meio do
caminho. Tão simples quanto uma bolha, tão indefinido quanto o que
chegava aos seus olhos quando a noite caía. Aquele tanto de pontos
luminosos.
Parte II
De certa forma, o que
era ontem permanece hoje. As dúvidas, no fundo, são as mesmas,
embora se apresentem em nova roupagem. Ele permanece no mesmo ponto,
observando as matas que se delineiam no horizonte longínquo. Os anos
passaram mas as respostas não vieram. Virão um dia?
De onde estão seus pés
agora, várias linhas saem e se esticam em rumos diferentes. Alguns
são retos, outros tortuosos. Mas todos vão para lugares não
abarcados pela visão. O fim de alguns é imprevisível porque há uma
curva no caminho, o de outros porque se embrenham em construções
diferenciadas. O fato é que ele sabe que vai ter de escolher algum
dos caminhos. Contudo, quanto mais se anda, mais distante um se torna
do outro. E se, depois da curva, depois da porta, depois da mata
embrenhada, não se chegar aonde era esperado?
Parte III
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