Parte Um
– colapso nervoso pós-traumático
Aqui estamos sentados nessas poltronas de couro. Há pequenos
cortados aqui e ali, não se importe. O tapete camurçado é cortesia
da casa, mas será removido tão logo essa nossa conversa chegue ao
final. Quero os detalhes de sua aventura, quero saber mais sobre o
que conta como um terrível pesadelo ou um sonho de dias dourados. Por favor, deixe-nos intrometer em suas lembranças. Sim, obrigado.
Parte Dois – um plantel de perguntas
Bem, senhor Marroco, gostaria de ouvir suas palavras sem interrupção ou pausas longas demais, gostaria de poder anotar as divagações e assuntos relacionados. O que
aconteceu e onde você estava? Com quem eram aquelas pessoas com que
você falava? Sim, então havia um ruído impossível? Porque as
pessoas estão sempre inventando coisas o tempo todo, e tal, sabe
como é. Sim, eram muito brilhantes? Pois, prenderam seus pés ao
chão? Hum, pois não, prossiga.
Então
havia dezenas deles em um “estacionamento”. Próximos a órbita,
sim. Como uma missão colonizadora. Alta rotação que transformava o
concreto em suposição? Poderia ser menos... poderia ser mais, hã,
claro? Sim, matéria, ondas eletromagnéticas, hum, sim. E estavam
predispostos a alguma coisa? Um conluio? Acho que vamos ter de ligar
um gravador, o departamento irá se interessar nessas informações.
Intimidado? Não, por favor. Estamos todos entre pessoas que prezam
pelo futuro próspero dessa sociedade.
Diga-nos,
há algum espaçamento de tempo não explicado? Viveu isso antes,
então? Hum, sim, sim. Como uma outra consciência extra-dimensional?
Física... metafísica? Acho que estamos avançando um pouco rápido.
Pode detalhar-nos sobre o “jogo”? Hum, sim, sim. E estava de
volta à rua? Seus pertences foram deixados para trás, senhor
Marroco? Um maço de cigarro, ah, sim. Perdido? Na correria? O senhor
acredita que a curiosidade, sim, sua, possa ter despertado o
interesse deles? Um cigarro? Jonas, tem cigarros ainda na gaveta? A
primeira, debaixo da cuba. Obrigado. Podemos continuar, senhor
Marroco. Não, não é preciso se exaltar. Proteção do Estado? Bem,
não posso garantir, mas podemos pedir alguns recursos. O material que
o senhor tem é de extremo interesse para nós.
Parte
Três – instruções prévias
[Zumbido
agudo, dores lancinantes e olhos fechados.] Eles irão lhe fazer
várias perguntas, pode repassar tudo que viu por aqui. Entendemos
que há uma certa... estranheza nisso tudo, e que atualmente a sua
percepção lógica pareça estar bastante abalada. Não faça
perguntas, libere sua mente, tente me entender. Nos entenderemos
dessa maneira, mas preciso da sua boa vontade. Nós temos boa
vontade, não queremos agressividade de sua parte. Não precisa de
garantias conosco. Iremos lhe mostrar coisas além de suas crenças,
gostaríamos que estivesse atento para tudo o que se passa. [Flashes intensos]
Parte
Quatro – painel desconcertado
Nos
parece que aquele tal Marroco ficou bastante perturbado depois do que
nos relata como experiência. Mas suas respostas foram bastante
instigantes. Não, não conseguimos comprovar nada, bem como não
percebemos nenhuma movimentação estranha ou localizamos nenhuma
“concentração” nos locais das coordenadas. É uma questão
complicada, ainda não podemos dar um parecer sobre a validade das
respostas. Medo? Não, não acho que essa seja a melhor expressão.
Talvez uma curiosidade, uma excitação tenha se colocado sobre os
agentes. Estão trabalhando da melhor forma que podem. Não, ainda
não temos nada formulado. Sinceramente, não me sinto abalado. Mas
uma coisa me preocupa, Alaor. A perturbação do senhor Marroco é
significantemente... real, se é que entende o que eu digo.
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