Inebriado, circundado
de calor, fumaça e gatos, olhos por todos os lados, observando ao
léu, observando tudo menos eu, dissaboroso, sentado, circundado de
calor, fumaça e gatos. Sentado assim, escrevo. Escrevo não sei para
quem, essa declaração de amor descuidado. Perdido, desolado,
sentado. Olhos no papel, ouvidos atentos a uma música que toca
longe, em alguma festa num vilarejo no interior, fora de
meu alcance. Tão longe do meu alcance está o personagem detentor do
meu coração, para quem escrevo este bilhete mal redigido. Mas a
paixão é tanta que não me permite virgular bem, ou, se virgulo,
não me permite inserir parágrafos ou separadores discernitivos.
Escrevo, eu sei bem, mas perdido neste colchão em que me afundo, só
sei da fumaça que ronda meu coração, esta brasa acesa, chorosa. A
música que toca distante vai se distanciando cada vez mais,
distante, baixa, abaixando, distante, e em consonância vou perdendo
a razão. Sobra apenas o coração.
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