O som distante me traz a outras memórias. Eu estou acordado, estou acordado e seguro sua mão. Estamos naquela rua estranha, aquela rua estranha de novo, lembra? Ela é pequena e tortuosa, ela não tem final. Ela descamba...
Num minuto eu olho pra trás e estamos pertos de casa, estamos na esquina. Eu me volto para você, a rua estranha diante de nossos pés novamente. Estamos abraçados juntos àquela velha cerca de madeira, as fazendas, as plantações e a Lua, longínquos, mas ao alcance dos olhos, ao alcance de nós. Estávamos fantasiando?
Debaixo da sola dos meus sapatos há um visgo de tudo o que nos trouxe até aqui. Um pedido, uma noite, uma promessa, o amor.
De repente eu me encontro aqui no meio dessa cidade desconhecida, devo ter saído do rumo com os olhos vendados. As praças estão vazias, como nas manhãs de domingo. Há uma melodia distante que me repuxa, estou me locomovendo involuntariamente sobre esses pisos irregulares. Os carros estão lentos e acinzentados, as pessoas com suas faces cobertas, essa downtown fantasmagórica.
Estamos juntos, juntos e distantes demais, eu não consigo percorrer esses curtos passos que nos levam de volta. Minhas mãos em sua cintura e contemplamos atemporalmente o horizonte preguiçoso. O som distante me traz a outras memórias, o som de outras épocas me dessintoniza, e uma fagulha elétrica me arrepia a espinha. Eles estão nos chamando...
Um comentário:
eu sempre gostei dessa ideia de ter a 'cidade' - espaço urbano - como uma representação de nós mesmos. As lembranças, os sonhos, "as cidades invisíveis"...
ótimo texto Tiago - aliás, como todos! Feliz Natal =D
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