8 de dezembro de 2010

"Uma barata escura vagueia...

... no porão, e ao mesmo tempo há um rato roendo os fios da lavadeira. Meu dedo te conduz, e o teu acende a vela. Contudo, o mundo mantém seu giro e eu acordarei todos os dias pela manhã. Amém.”

Os olhos não conseguem se manter na órbita, a mente não consegue se manter nos olhos. Tudo o que você vê, tudo isso não é você. Seus sonhos são destruídos, seus amores, traições. Deram um tapa em seu riso. Os papéis te dizem que és grandioso, mas seus pés não conseguem ler as linhas. E se algum dia alguém lhe perguntar o que foi feito dos cordões, não saberá como esconder a mentira.

Você está morto. Então, você está morto? Afiou a lâmina, fez o corte, rodopiou até se tornar são novamente. Você me deixou em um corredor muito longo para que eu consiga enxergar a porta. E agora que descobriu que todo o quarto não se pode percorrer, prefere ficar enrolado nos lençóis deitados na cama.

Afinal, o que são os faróis? O que eles apontam na direção de meus olhos cansados? Não estão me ajudando a enxergar, estão embaralhando minhas ideias da estrada. Aonde foi parar o caminho? As faixas brancas da pista se enrolaram meu pulso e eu tenho os movimentos contidos. Como as órbitas dos olhos, estão desfocadas minhas intuições. Não sei o que fazer com você.

Eu bebo a água, mas todos os dias trazem-na novamente. É como o girar dos ponteiros do relógio, mas estão atrasados. Não se encontram, estão sempre distantes, e a hora não passa. Essa pontualidade impontual adoece minha percepção. Aguçada e febril, debilitada e úmida, encharcada de sangue, aponta-me o dedo. Então, estou morto? Eu não me lembro de quando atravessei a porta, devia haver um porteiro.

Quem me permitiu passar para o outro lado da sala, foi o mesmo que me deteve nas eras passadas? E se eu continuei a persistir no mesmo erro, foi agora que encontrei minha punição? Meus olhos orbitam algo que minha percepção, a aguçada, não abarca. O que vejo não é o que existe. O que existe, vejo?


Passei por todas as fechaduras, destranquei todas as portas. Eu engoli as chaves, eu cravei a pimenta, eu pensei. Eu enxerguei o que todos não viam, eu percebi a dimensão das lâmpadas, eu enrolei as faixas, eu brinquei com a lâmina. Eu te fiz de cozinha, eu quis cair na piada, eu te chamei de mãe. Eu corri com os lençóis, eu te abracei. Eu girei nas hélices, eu voei. Eu provei da dor, eu a transformei em prazer. Eu desiludi o amor, eu me permiti poderoso. Mas, ainda e apesar de tudo, não compreendo nada.

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