"Não me sinto bem."
Vejo preto, tudo
escuro. Vejo e não quero ver. Vejo e não tenho ânimos pra ver. Um
angústia me consome, há tanto me carcome que não sou mais eu, sou
ela e eu, sou mistura de neblina nos olhos e dizeres mecanizados.
Isolada mente, resguardada da brutalidade da frieza ou desativada
pela desnutrição de pulsares vívidos. Sou eu, de um jeito que não
sou, que não quero ser.
Respeito meus limites e
evito mostrar a penumbra àqueles por quem tenho apreço e profunda
admiração. Estou mau, cheio de desejos que corto, um a um, com uma
tesoura indigna. Como que por profundo prazer masoquista, picoto minha
imaginação e restrinjo meus sonhos; esse não sou eu, embora seja
ainda.
Deixa estar ou deixa
mudar, tanto faz, tanto fez. Assim sigo, sem forças ou vontades nem
pra bater a poeira das botas. Arrasto e faço rastro, por pura
inanição. Olho sem expressão, passo os dedos na barba, consumo-me,
comunico-me de verdade apenas com o cigarro e as xícaras, amigas
minhas. Pseudo-lunático estou me fazendo, dia após noite. As manhãs
não são tormento e não trazem alento. Nada. São manhãs, no
sentido técnico perfeito. Nova virada da Terra, mecânico efeito que
nos faz estar novamente expostos à luz.
Há no centro de um
tornado uma presença, sentada, de olhos distantes, contemplativos.
Sou eu, de joelhos nos braços, mãos cruzadas, pés no barro e calça
dins de barras levemente desfiadas. Contemplo o tornado que eu mesmo
criei ou, de certa forma, deixei formar-se em torno. Virá um salto,
uma cambalhota, um grito, um giro?
Um comentário:
Virá!
Postar um comentário