(Não sei na voz de
quem falo, não sei de quem é a voz por quem digo. Confuso fico.
Posso estar falando de mim só, posso estar falando por uma voz que
nem sei se confio. Posso estar falando por dois, posso estar falando
pelo depois. Só sei que falo, despejo, intrometo sem pudores.
Confuso fico, mas ainda assim prossigo.)
“Então todo o
movimento cessou. E o que ficou? De uma só vez pararam as bocas,
pararam as contrações, as mentes, os corações. E o que pairou?
Silêncio. No calor do momento, o abraço, o alento, o contentamento.
Ilusões da profusão das almas e dos vapores? Mecânicos gestos previsíveis por estarem as veias tomadas de torpor?”
E, de repente, cessou
todo movimento. Em silêncio permaneceram, cada qual imerso em si,
possivelmente mais profundamente do que há muito tempo já tiveram a
oportunidade de estar.
E daquele silêncio,
daquele cansaço que não era cansado, daquela desativação
momentânea de todas as sinapses, o que se depreendia?
Todas as frustrações
passadas, lavadas? Todas as luzes, fachos poderosos, apontados numa
direção que é, ou fora até então, sempre tão nebulosa,
conseguiam limpar de vez aquele céu? Todas as inquietações,
soterradas de uma vez ou, escavadas com mãos e unhas
sangrando, com força e barro, com dor e lágrimas, trazidas à tona?
Nenhum sinal, nenhum passo brusco, nada se podia saber dali.
Em silêncio
permaneceram. Cada qual com mãos dadas umas às outras, como que
numa ciranda congelada. Mas e congelados os corações, estavam? Os
segundos de uma sensação eternizam uma década. Olhos abertos
olhando ora para outros, ora para o branco do gesso acima, ora para
as circunvizinhanças. O que diziam? O que se permitiam?
Silêncio. Cumplicidade
de sentimentos, de sensações e felicidades? O que se passava ali,
naquele pedaço de tempo recortado, por vezes, e tantas, imaginado? O
que trazia o fato? Cortavam-se em pedaços, esmigalhavam-se os ideais
de uma felicidade comunal, de um contrato conjugal, ou, pelo inverso
extremo, sentiam que havia se cumprido o que há tanto era prometido,
como se o cumprir-se fosse uma confirmação de uma história
(quantas vezes) idealizada?
E o que era para uma
voz, era o mesmo para a outra? Talvez não fosse essa a preocupação
que planava naquela áurea de paz. Talvez, por uma vez, tenha cada
qual chegado ao seu êxtase, fosse por si ou pelo outro, ou por
todos. Perguntavam-se aquelas vozes, em seu íntimo, o que viria
depois? Poderia o pensamento chegar a tanto, ou era uma sensação de
que nada importaria daqui um minuto ou daqui uma semana, nada além
de agora, aquele pedaço de acalento absoluto?
E se fossem
externalizadas tais pessoas, tão plurais por ora, mas, agora, tão
congruentes, o que lhes viria em mente? Seriam dissonantes seus
acordos, seus acordes profanos e tão sagrados?
Em silêncio
permaneceram. Estavam imersos em si. Estavam imersos, também, um no
outro. Mais profundamente do que, provavelmente, jamais puderam
estar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário