Vou ser
sincero e te falar que não estou bem. Que digo o que vem à cabeça
e isso é uma autoproteção. Vou ser direto e falar coisas que não
irão agradar. Mas, afinal, quem se importa em ficar agradado? Eu
penso que certas trevas crescem como hera nas paredes, e tais somos
nós e nossas relações descuidadas. Mas pregaram como praga e não
me vejo mais em você, e nem você me reconhece mais. Somos escuros
um ao outro, temos nulidade nos olhos. Um grande vazio que suga,
transformamo-nos em parasitas de nós mesmos. Um olhar, uma cartada.
Fulminante.
Vou abrir
o peito e dizer que não sou herói de ninguém. Mas pretendi ser, um
dia, um dia que é distante agora. Vou abraçar-lhe e segredar em
seus ouvidos coisas horripilantes que andei pensando. Mas é assim a
vida, feita de reflexo do que imaginamos ver que, desdobrando-se de
novo, é um reflexo do que pensamos que é. Mas não é, tudo é
desastroso, oh, Deus!, estou encharcado de lágrimas e não as
mereço. Falo de coisas grandes como a noite e tenho medo de ruídos na madrugada.
Mas a
verdade, tão triste de reconhecer, é que não escurecemos as
vistas. Antes, escurecemo-nos a nós, tornamo-nos um oco, vago,
dilatado e recluso.
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