(Dedicado a três amigos)
Não quero mais amores.
Amores, seus lamentos, suas dores. A paixão arrebatadora, o início,
o meio sôfrego, mole, morno, e o final libertador tanto quanto
aterrador. Não os quero mais, nada. Não quero ter de pensar em
ninguém, não quero andar em meios-fios de alguma coisa. Não quero
mais nada. Não quero mais soluços, não quero lágrimas e nem
promessas. Estas muito menos.
Não quero corpos.
Minto. Quero-os. Um de cada vez, talvez até dois ou mais. Mas não
os idealizo, não os quero esculpidos. Quero o corpo de qualquer um,
quero uma carne qualquer, natural. Que ao menos este querer e o
objeto querido sejam naturais. De resto, nada mais espero. Não quero
esperanças de um amor, não quero idealizar cabanas conjugais em
campos verdejantes. Talvez eu queira me esfolar no mato, chafurdar no
lamaçal, sujar-me de sexo, sentir o odor nauseante de uma pós-noite.
Mas é só.
Estou cheio. Cheio de
rancores, de dores nos pés (ah, meu Deus, só pode ser o frio, o
frio de junho!), cheio de mediocridade. Estou cheio de fumaça nos
pulmões também, mas desta não reclamo, ainda que um dia possa ela
me levar à tumba. Problema meu. E dela. Estou repleto, estou até a
tampa. E o pior? O pior é que não consigo me despejar em lágrimas,
este abarrotamento não se esvai pelos olhos, nem por possíveis
gritos. A minha única esperança é escrever. Redigir, revisar, ler,
apreciar, desgostar e, por fim, concordar. Isto, e só, distrai-me
ou, de alguma forma, recompensa-me.
O tempo corre, ainda
que não o possamos ver sempre. Um ano mais, novas rugas, menos fios
de cabelo, promessas a serem pagas. Sabe o que diminui minha aflição?
É pensar que este ano, talvez, terei modos de cumprir a metade das minhas
[promessas]. Uma porção de amigos a visitar, de lugares a conhecer,
de livros a serem lidos e resenhados, mentalmente ao menos. Tenho de
seguir vibrante, cuspindo flores e semeando pelo caminho. Mas não é
fácil. Ainda quero meus corpos. Mesmo tendo consciência de meu
fracasso como objeto do desejo. Ainda assim.
Tenho frio e é péssimo
tê-lo. Quero meu rio branco, além dos corpos e das flores e da Gal.
Ainda que eu não possa tê-lo como morada. Que seja ele, então, meu
amante apenas, e que eu possa visitá-lo esporadicamente,
sorrateiramente, com a inocência pueril da infância. Quero também
que chegue uma tal manhã, e esta eu sei bem defini-la, e que com ela
eu tenha esperanças renovadas de que batalhar é, por fim,
compensador. Quero, sobretudo, meus sorrisos mais espontâneos de
volta. E, por favor, que seja logo.
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