“Estou possesso. Não estou irritado,
nem furioso. Estou possesso.”
Quando chegar o fim, quando chegar o
dia do a deus, onde estaremos
sentados? Quem virá ao meu auxílio, quem virá pedir meu abraço? A
quem irei direcionar olhares desorientados que clamam por socorro?
Fará sentido desesperar-se sozinho? Fará sentido não estar
completamente entregue à solidão? Afinal,
por que definições? Haveria meio de definir este cansaço mental,
essa mão levantada por cima do lodo pantanoso? Quem está lá fora?
A cena
é escura, a cena é profunda. Tudo será eco, mas não se pode
precisar onde está a fonte. Por onde gritam, e por quê? Não fará
mais sentido a gramática, nem meus papeis pendurados na parede,
cuidadosamente emoldurados e improfanáveis até então. Mas tudo é
profano, este solo é manchado de sangue. Quem não é? Vertigem,
vertigem. Estarão todos em queda livre, mas quando é o fundo do
poço? Qual o maior castigo para a mente infinitamente criativa?
Pesadelos, o que são? Ruídos, ecos, ouvidos em explosão. O fim
estará próximo, realmente?
Estaremos
todos à deriva, esperando por um contato. As estátuas se movem, são
bocas de pedra a palpitarem, mas o que dizem? As maiores se movem
pelo pasto verde, tudo pode ser verde no fim, mesmo que a sequidão
tome conta de nós por inteiro. Nenhuma lágrima escorrerá, a boca
seca, a saliva encruada na língua, gosma. Quem pode se dar conta do
fim quando o encara pela face?
De
seus olhos saltam muitas cores, flashes pulsantes, é como o coração.
Sangue pelo corpo, cores pelas mãos. Peles multicoloridas, estamos
verdes, brancos, amarelos, verdes novamente. Quando o fim chegar, e
se você estiver em sua sala, observando tudo pela tevê? Vejo muitas
luzes, ele diz, mas não encontro resposta. Vejo muita claridade, mas
o interruptor foi absorvido pela parede. E agora? A cena é escura,
mas o que responder se a escuridão for, paradoxalmente, luzes
derretidas escorrendo por suas paredes, tragando árvores, parque e
gramas?
Quando
o fim chegar, quem se levantará para acudir? Para onde correrão os
bons, ou tais não passam de lendas que contamos, dia após dia, para
podermos colocar a cabeça no travesseiro e conseguir ressonar? Você
está numa cidade deserta, e o dia é muito claro. A luz te queima,
penetra pelas pálpebras, mas o sol não está lá. Tudo é branco
acima, e abaixo as pedras ardem. É um dia agradável apesar de
tudo. Mas onde estarão todos? Você está numa praça deserta, há
poucas árvores e um chafariz morto. Dentro, apenas folhas secas e
luz. Olha para os lados, mas ninguém vem. E quando o fim chegar,
quem sabe se ele não será uma completa clausura involuntária? Como
anunciar que tudo está se acabando se não há quem possa ouvir?
Talvez, por fim, você se resigna e senta no banco. E lá irá
permanecer, solitário, à espera de um transeunte. E passarão
séculos. E mais quantos outros séculos passarão até que possa
perceber que essa é, em verdade, sua danação.
Quando
o fim chegar, poderá tudo escurecer-se, e haverá outras cores,
cintilantes. Tudo cintila, num universo de dimensões e propósitos
sempre discretos demais. Quando enlouquecer, quando deitar-se ao chão
e cravar as unhas na terra, quem saberá? A
cena é profunda, mas a luz é alva. Há gritos no céu, mas são
sons sem boca. Há uma alvura angelical, mas te queima e tudo é
escuro ainda.
Estamos
todos à deriva, ávidos pelo contato.
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