23 de janeiro de 2009

Cidadani(a)gonia

Era noite quando o despertador tocou
E na algazarra o povoado se levantou

Pela minha frente passam rostos
Minados por fontes de desgostos
Correndo em grande desespero
Pela falta de tempo ou dinheiro

É madrugada ainda e no corredor
Passam pessoas enroladas no cobertor
Faces desconhecidas que fogem do credor
E escurecem o caminho com suas vidas de falso louvor

Fechando depressa a porta de madeira escura
Batendo-a na cara da filha de mãe impura
E deixando que padeça de fome na idade imatura
Afinal, querida, quem disse que a vida não é dura?

Atravessa a avenida do avesso
Os mortos carentes de apreço
E esticam a mão fatigada
A espera de uma simples torrada



E há sempre os mais tolos, os mais bobos, que dão colos
E um afago, um abraço, e até uns carinhos fogosos
Deixe estar, espere pra ver, vai encher sua vidraça de tijolos

E no findar da história
Quando estiver se gabando de glória
Verá o feitor, pálido de horror
Largar o açoite
Explicando porque não mais dorme à noite

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