14 de janeiro de 2022

interlúdio 2022

 


não preciso mais dos seus conselhos
não acho que me reconheço neles e nem nos de ninguém
aparentemente não me reconhecem também

as coisas que fiz

os lugares que vi

não cabem nos julgamentos seus e de ninguém

 

não preciso mais do seu sorriso

enaltecendo quando fiz o que esperavam

seguindo um script para não enfurecer ninguém

 

não preciso mais das longas conversas de desabafo

que me distraíam enquanto o fio do telefone se enroscava

para, num outro dia, atar minhas mãos a seus caprichos

 

de repente, não preciso mais

estou bem aqui, vendo só até onde a definição permite

conversando com meus botões, dedilhando na mesa de madeira

refletindo por dentro da xícara, por dentro de mim

 

os enlaces que fiz

os lugares que vi

as coisas que senti

os vexames que eu dei

as pessoas que amei

não cabem no seu julgamento, no seu e no de ninguém






[Crédito da imagem: Pixabay]

5 de janeiro de 2022

Unspeakable




Coração, órgão do meio, que [dizem] fala pelo cérebro, o verdadeiro responsável
Coração, órgão do meio, que palpita mais forte ou quase desaparece do tato, conforme o dia


Fala palavras não entendíveis
Diz, com o ritmo, em códigos
Sentenças impronunciáveis
Verdades condenatórias


Coração, órgão do meio do peito
Peito que aconchega e recebe
Peito que respira, inspira e expele
Coração, órgão tão namorado
[E maltratado pelos hábitos alimentares ocidentais]


Fala por sua própria língua
Palpitações que, por sorte, só eu entenderei
Em códigos que, depois, a memória sofrerá para decifrar
Verdades condenatórias, afirmações tão necessárias


Do meio do peito, que aconchega e recebe
Que se sensibiliza ao tato
Que esfria com as correntes de tormentas
E guarda com zelo quem mais merece seus cuidados


Sentenças impronunciáveis, verdades condenatórias
Afirmações tão necessárias, que só eu entenderei






(Imagem: Pixabay)