28 de junho de 2009

Conscientização

Dentro de aproximadamente quatro minutos

E não sete

Você vai rastejar sobre seus membros picotados

Você não poderá voar de novo

E meus lábios parecerão estar muito distantes

Nada é tão forte como o desejo


“E às vezes eu sinto que sou feliz
E às vezes eu sinto que vai ficar tudo bem”

E quando a noite acorda, estou escondido no canto


Dentro de mais alguns toques

Sua mão vai congelar

E você estará cantando aquele som que sua mãe entoava para seu sono

Mas ela não está mais aqui

Seu mundo agora é solitário

O barulho das bombas é cada vez mais alto

E os lamentos e murmúrios que brotam do esgoto


[SILÊNCIO]

[DEPRESSÃO]


Então novamente você acorda
Meu Deus, não era você que costumava pensar no mundo
Como um lugar bonito
Em que as pessoas acreditavam umas nas outras?
Um lugar onde, custasse o que custasse, a boa vontade pudesse vencer as más intenções?

Continue na batalha diária, com sua venda negra bem focalizada sobre sua visão. Aí você vai conseguir viver mais um dia.

14 de junho de 2009

O sentimento mágico de Liz

Liz fez um bolo hoje, e comeu-o sentada no tapete vermelho.
Liz teve um ataque de bulimia depois disso.

No alto de seus 20 anos, Liz se sente infeliz.
Liz não transou com todos os garotos da faculdade.
Liz não comprou os sapatos dourados no Natal.
Liz nunca teve a chance de se despedir de seu pai.
(Good-bye)

Liz fez compras com seu cartão de crédito.
Liz falsificou a assinatura do Visa.
Irrompeu em lágrimas quando enforcou sua mãe.
E velejou por elas durante toda uma tarde.

No profundo de seu psicológico, Liz encontrou amigos de infância.
Liz visitou a cozinha de Pisância.
Liz alugou E.T. e teve sonhos com Elliot.
Em dias frios, Liz veste um macacão azul.
Liz toma iogurte light.
Liz está dezessete quilos abaixo do peso ideal.
Liz não toca piano durante a noite.
Liz não entende porque padre Gil rasgou seus livros de magia.

Quando adormece, Liz sente que alguém a visita

Liz se magoa facilmente.
Liz entristeceu-se com seus familiares.
Liz tem uma lente cinza.
Liz fala com seu guarda-chuva. E ele a responde.
Liz faz preces à santa Maldade.
Liz nunca foi uma criança de verdade.

Liz não tem sorte no amor.
Liz não se ama com ardor.
Liz fez duas cicatrizes em sua face direita.
Há uma caneta sobre o travesseiro de Liz.

Liz aprendeu vodu na Internet. Seus colegas de classe não ficaram felizes com isso.

Liz amou algumas pessoas. E elas lhe disseram adeus.
(Elas lhe disseram adeus.)
Liz está ajoelhada num altar, esperando ser notada.
Liz está enjoada, Liz está assustada.

Liz quer dizer que ama você.

7 de junho de 2009

Ato confessional s.n.

Não, não estava...

Cada vez mais a noite se apodera de meus pensamentos, e tudo que sinto é distante. Ao longe luzes de uma cidade deserta, aqui perto o fantasma de antigas memórias que insistem em não se apagar.

Eu não me vejo mais, tudo está inscrito em você, e se em você não faço diferença, não dou por existir. Sou o puro reflexo.

A noite consome minha autoestima, meus objetivos se descontinuam e o presente é sempre detestável, sempre detestável – não porque o seja, mas porque em um minuto fará parte do passado, esse sempre tão almejado e inalcançável.

Não me sinto bem. Não me sinto completo. Não sinto um solo firme onde depositar meus sentimentos.

Tento me dissociar das lembranças boas, mas aqui nada é realmente bom. Eu me engano com risos falsos, em companhias boas (verdadeiramente boas, mas ainda sim estou só), e estou vazio. Criei situações engraçadas, projetei sensações, esperanças e personalidades. Criei alguém virtual pra me dizer “eu te amo”. Nada além das lembranças é suficientemente firme, mas mesmo as lembranças estão se tornando nubladas e incoerentes.

Me sinto só. Só e vazio.

24 de maio de 2009

Aceso como outro cigarro

DEBRUÇADO SOBRE O CAFÉ

Não escreveremos idéias inválidas
Ou validaremos experiencias falhas

A técnica não passa de uma rede de sustentação teórica, imprevisivelmente dominada pelas variações subjetivas possíveis a cada aplicação.

Não estou nervoso
Não estou sorridente

Caí da cama no chão rancoroso
E esqueci o meu entorpecente

Além da casa distante que se vê na colina, que é motivo de tantas estórias alucinantes, medos e reviravoltas estomacais dissonantes, há uma outra civilização imperturbada, cuja existência por nós ainda não foi tocada, e nos mantém “a salvo” de nossa própria consciência auto-conspiratória.

Ah... A alegria inafundável da monotonia entediante do domingo de manhã.

[KILLING ME, KILLING YOU - Alonso Díaz, 2008]

9 de maio de 2009

In and Out of Love (Armin Van Buuren feat. Sharon den Adel)

[Composition: Sharon den Adel]





See the mirror in your eyes
See the truth behind the lies
Your lies are haunting me
See the rhythm in your eyes
Given answer to the why
Your eyes are haunting me

Oh, falling in and out of love
In love, in love
Oh, falling in and out of love
In love, in love

See the mirror in your eyes
See the truth behind the lies
Your lies are haunting me
See the rhythm in your eyes
Given answer to the why
Your eyes are haunting me




Oh, falling in and out of love
In love, in love
Oh, falling in and out of love
In love, in love




Why can't you see it
Why can't you feel
In and out of love each time
Why can't you feel it
Why can't you see it
In and love out of love

Keep, keep running
Keep, keep falling
Let it fade away
You keep, keep running
Keep, keep falling
Let it fade away
Keep, keep running
Keep, keep falling
Let it fade away

Oh, let it fade away




5 de maio de 2009

Desejum

Até o dia de eu morrer

Eu tenho de ter visto o dia nascer
Eu tenho de ter corrido atrás dos seus passos fugidios

Não é fácil
Prever o esquecimento rápido
Não é muito cômodo
Se sentir passageiro de um seletivo ávido

Mas o tempo agora é favorável a mim
Que dirige a nau, que obtém os préstimos do Sim

Até o dia de eu morrer

Eu tenho que ter visto minha palavra prevalecer
Eu tenho que ter beijado seus lábios e lhe causado toda a sorte de arrepios

Eu tenho que ter sonhado acordado de novo
Eu tenho que ter disseminado Atom no meio do povo

Eu tenho que ter lhe abraçado na varanda ao fim da madrugada
Eu tenho que ter lhe amado nesse chão de aparência encerada

Eu tenho que ter aberto a janela durante a noite de Lua
Eu tenho que ter contemplado outra vez sua silhueta nua

Então toda manhã parece ser igual
Não será assim como eu quererei
Com uma rotina de previsão e final
Entre surpresas e expressões de felicidade lhe porei

Eu tenho que ter saído pelo matagal causando com minha máscara
Eu tenho que ter tido aulas mais intensas de Báskara

Eu tenho que ter gritado seu nome em vias públicas
Eu tenho que ter te perseguido loucamente em situações únicas

Até o dia de eu morrer
Eu tenho de ter sido o que você merecer

27 de abril de 2009

Depositário

Êeeeeeeeeeeeeeeh!

É tarde de segunda-feira e tantas coisas me vêm à cabeça...

Serpenteia por entre meus dedos a vontade de lhe abraçar, e esse é o pensamento voltado para você.

Do outro lado, em outra semiface de uma face multifacetada meu dedo aponta para aquele céu limpo e para as árvores religiosamente dispostas no terreno. E me lembra dos ritos realmente religiosos, das redes que balançam e da cadeira.

Da cadeira. Da garrafa. Dos livros. Dos cadernos abertos em páginas de estudo.

Mas aí já não quero mais pensar tanto, e me distraio com o centro da cidade, aonde vou agorinha fazer umas compras especiais. E nessa correria urbana, o vai e vem de carros me lembra do meu carro que foi encontrado, do seu coração despedaçado e da trabalheira que vou ter essa tarde.

E as compras, onde ficaram? Vão ser feitas antes que eu acenda o próximo cigarro.

Ê tarde de segunda-feira onde minha imaginação voa, e meus braços tomam tantas direções, seguem tantas sugestões. E provavelmente a sugestão mais forte é São Paulo.

Êeeeeeeeeeeee segunda-feira!

23 de abril de 2009

Há uma pequena desordem no pátio central

Todos sentados!

(Vozes ao fundo)

Bagunça desordenada, nos abençoe!

E você, me abrace forte

Comemos chocolates, mousses e pudins

Olhando pela fechadura da janela

E catando anjos, matando-os com nossos marfins

Você precisa se inovar, querido!

(E me abraçar forte)


Esquiamos nesse frio, sem freios

Nunca tão fundo, nunca tão seriamente

Antes que os ruídos acabem

Antes que me seja possível ouvir meus pensamentos, me abrace forte!

Ah, ah, ah
É o estímulo, é o princípio
Ah, ah, ah
É o precipício...

Além, para além do deleite
A princesa eleita balança suas tranças douradas na sacada
E por detrás a bajulam os políticos patrióticos, os desafortunados metódicos
Felizes agora, infelizes depois, quando estiver a monarquia restaurada

Ah, ah, ah...

E você, me abrace forte!

As entidades nos protegerão
Fogos, vértices, arestas
Minhas ferramentas de precisão
Vou continuar lhe vigiando pelas frestas (nunca dorme)

Nunca dorme!
Nunca dorme!
Nunca dorme!

(E enquanto sonhamos tudo isso,
descendo ao inferno pela escada do paraíso,
me abrace forte, querido!)

19 de abril de 2009

Sem permissão para decolar

Respire e estremeça
Eu vejo seu lado bom
Eu espero o algo antes que aconteça

(E se no fim você me desprezar
Se na última hora me descartar
Estarei ajoelhado diante de sua sombra a rezar)


Continue, em frente
Minha admiração por você é crescente

E agora há algo a me agradar
A provocar, a despertar
Uma paixão incontrolável
Um sentimento encenável
Vou seguir seus passos com conformidade
Vou cultivar os desejos de intimidade
Você não sabe o quanto vale

É mais que a moeda que sustenta esse enfoque
Nada será mais prazeroso que o seu sensual toque

Lá fora, onde foram, há uma brisa aconchegante
Me leva alado, me faz baixar a guarda
E se quando eu lhe soprar os lábios, não puder ser tão sincero quanto devia
Perdoe-me a atitude irritante

Eu estarei ajoelhado diante de sua sombra vultuosa
Tecendo falas felizes e canções com sua face
Terei encontrado o que faltava no espaço vago
Meus sonhos estão embasados com sua sinceridade formosa

13 de abril de 2009

Nota de falecimento


Quando ele faleceu
Deu-se as quatro badaladas
E as senhoras de preto, engravatadas
Deram a última palavra para o não-judeu

Às quatro horas
Quando mais que o sol escapava
As meninas e as árvores de amoras
O carro preto em minha porta esperava

Passaram-se dias e noites, semanas
As cobertas brancas se sujaram
A poeira cobriu por toda a parte as entranhas
E sem seu fiel protetor, as rosas não prosperaram

A casa agora é vazia
Durante a noite, escura e fria
Ao longe se ouve o bater das janelas
Abertas ao vento, como ficaram também sujas as panelas

E hoje não tenho mais seu amor
E todos os domingos passo de joelhos na minha sacada
Contemplando de longe a serra, a paisagem amarelada
Na cama vazia, o fogo não tem calor

As promessas de eterno valor
As esperas e as vezes que estive às voltas
Com seu caráter protetor
E então despencam as revoltas

Nunca mais me apaixonarei por outro alguém
Não fará mais sentido procurar uma pessoa além
Tudo o que eu queria ter, a pessoa que eu queria ser

Agora é a tardia hora de me despedir
De seu corpo sem vida
De sua alma perdida
Soltando a mão, deixo de ser seu peso, deixo-lhe enfim partir

11 de abril de 2009

A partida

Pense nas crianças
Nas infantes fontes de esperanças
E vá
E não olhe mais

Ouça todos os clamores
Os desesperos dos senhores
E vá
E não olhe pra trás

Veja, estão todos lhe acenando
Perceba os corações e seus clamores lhe ovacionando
Há nas multidões um sentimento de paz
E no seio do lar, um vazio, um medo
Estou deixando o futuro ir de modo fugaz?

Olhe minhas mãos calejadas
Mas não reclamo, te dou forças encorajadas
E vá
E dê um passo a frente

Sinta meus olhos cerrados
Suas pálpebras e cílios, molhados
Mas me mantenho firme
Piso forte essa saudade que me deprime

E quando já estiver a noite em alta
Quando a solidão bater forte, nesse campo de sorte
Pense que tanto quanto eu aí, você aqui faz falta
E vá
E batalhe bravamente

10 de abril de 2009

Mas não, não era atemporal...

[Parte 1]

Ei você, preso nas cobertas
Remoendo sua vida

Ei você, que não consegue se levantar
Sentado na sacada vendo o tempo passar

Ei você, que sente desespero
Que não sabe quando correr
Que pensou o caminho e se esqueceu do plano B

Ei você
Preso em tormentas
Morrendo aos poucos enquanto a vida acontece lá fora
Escalando as paredes para saber o que tem (lá fora)
Mas a tampa se fecha
E você está de volta no escuro

Ei você, sentindo frio cerebral
Ei você, que pensa ser imortal
Ei você, você - a rotina banal

Agora não há mais volta
O eterno retorno já não é mais eterno
As pedras rolaram, o carro andou
O que sentia por mim, o que eu sentia por você acabou

Ei você, preso no remendo
Comendo farofa e acidentalmente marcando a estrada

Já não mais te sigo
Não tenho a obsessão

Ei você, eu gritei pra que me ajudasse
E continuou sentado na sala de leitura


[Parte 2]

Sei que está olhando pela fechadura
E a casa aí, toda escura

Não há perigo, não há ladrão
(Essa é minha concepção)

Mas o medo retorce, você involuntariamente se contorce

Há buracos em sua mente
Há falhas na sua razão
Não estão te perseguindo
Não estarão invadindo

Seu olhar triste me fazia sentir compaixão
Mas a indiferença deteriorou a compreensão
E pelo buraco da fechadura a vida passa, enquanto você se confina
Na sala de leitura


[Parte 3]

Mas veja
Os livros estão todos no chão
E em sua mesa, numa xícara velha o café esfria

Os anos dourados se passaram
Conforme suas entradas aumentaram
E as frias laminas não puderam compensar minha falta

Talvez por isso eu saiba hoje
Por meios honestos ou não
Onde é sua morada agora

6 de abril de 2009

Resquícios do eco

[Echoes. Olga Spiegel, 1972]


Não, mais que uma noite frente a televisão, com os olhos paralisados pela rebelião de cores, pelo leilão de atenção...

Numa multidão inteira eu estou completamente só, perdido. E por perdido, estou cego, estou tateando desesperadamente. O que?

Sim, sim. Eu caí no poço profundo, de onde eu só escuto. Há vozes que me dizem tantas coisas, as direções infinitas me prendem sem saber aonde devo ir. Acima da minha cabeça há uma luz acesa, longe de mim, longe de mim, um finito sem fim, não consigo alcançá-la.

Estranhos passam ao meu lado, e me olham com um olhar tristemente natural. Eu procuro entre eles faces conhecidas, eu invisto a minha atenção. Mas não adianta, nenhum deles sou eu. E em busca da identidade estou rodopiando nesse centro, consumindo meu próprio tecido como busca de uma nova vestimenta.

Dentro do meu quarto há uma lâmpada que tudo ilumina, eu posso ver pela janela. Claramente está sentado em minha escrivaninha, fazendo trabalhar minha máquina de escrever. Estarão usando minhas idéias, estarão roubando meu espaço, meu pedaço do céu? E minha mãe agora os reconhece como filhos?

Mais que uma noite congelado frente à televisão, tenho medo dessa invasão...

E na beira da estrada, vejo o eco distante dos carros. Luzes lá longe, que distorcem minha visão desprotegida pela noite. Eu penso que vejo monstros. A estrada se abre diante de meus pés, a luz me encara e eu suspiro com asco. Não quero respirar. A luz me encara e eu só posso correr, estou cercado pelas cercas esquizofrênicas do meu intelecto. Fujo do carro acelerado.

E estou de volta dentro do poço. Escuto os gritos de minha mãe. Tento me esconder, ela está se aproximando. Ouço a velha gaita me perseguindo, meus pesadelos vêm à tona enquanto meu corpo afunda na água gelada. A outra louca, ela e o quinteto familiar, eles lideram o motim contra mim. Os ouvidos imergem enquanto uma seqüência de gargalhadas dissonantes espanta os morcegos e abre caminho na estreita passagem do poço. Estou assombrado, meu corpo congela o líquido e tudo fica viscoso.

Lá dentro a televisão ainda está ligada e contempla furiosa a sua audiência inexistente no sofá.

Fecham-se os olhos, para-se o relógio consciente. Permanecem ainda por muito tempo os sons arrepiantes, a gaita enferrujada e as escabrosas risadas escandalosas de escárnio. Infarto, parada respiratória e convulsão. Nada mais lembra a prometida revolução.

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

O tempo passa, as eras mudam. Os ventos gélidos vão-se embora. A noite lentamente dá lugar a um azul tímido que começa a tingir o céu.

São constantes os batimentos em meu pulso e os olhos se abrem ao primeiro sinal de luz.

O vento da manhã começa finalmente a transpassar meu peito, e chegam ao olfato os odores de café-da-manhã. Amanhece e o corpo emerge da água fria, quente.

O relógio funciona ao serviço das mentes mortais, alimentado pelas doentes marcas das pressas temporais. Minha face reconstitui-se de pequenos momentos resgatados da boa memória, depois de limpos da inglória. Na rua as coisas continuam quase iguais. As pessoas caminham com os diferentes destinos, mas agora vejo um pedaço de mim em cada rosto.

Na passagem, na estrada que me levará ao céu, aparecem as primeiras marcas dos pneus me indicando o caminho.

3 de abril de 2009

Eterna liberdade do amor

De repente o mundo se abre
E caindo nos encontramos, num céu aberto, num destino incerto

Voando pelos ares
Os braços abertos, se acaba o medo
Enfrentamos o desconhecido de olhos fechados

Estou chegando perto do ponto
É preciso determinação
É minha ação, é minha intenção

Com coragem prosseguimos, estamos dispostos
Ao acaso, não por acaso

É tudo intencional, não há envolvimento acidental
A timidez é então agora intimidade
A verdade chega cada vez mais perto

Um olhar
Um toque
Um beijo
E todo um futuro passou

E nos vemos voando
Atravessando montanhas e nuvens
Acho que modelos foram quebrados

É uma luta incessante para que todos sejam
Declarados normais

E então nos tornamos imortais

A força que se compartilha
Atravessa tempos e quilômetros
Corta o ar na velocidade da fagulha de pensamento

E a noite repouso, de asas fechadas
Mas penso no hoje, e nas épocas a serem lançadas

É instigante, é gratificante

Um olhar
Um toque
Um beijo
E o dia chegou

31 de março de 2009

Olhe para os dois lados antes de atravessar a rua...

Você verá meu número na bina do seu celular
Sim, a partir de agora pode começar a gritar
Estou voltando de táxi só para lhe atropelar

Ouça a buzina!

É madrugada ainda e você está de pijama
Acorda assustado e observa a janela da cama
Não consegue distinguir meu vulto sobre a grama?

Essa é sua sina!

De volta às masmorras onde foi tanto tempo aprisionado
Aquela angústia que lhe mantinha eternamente torturado

Não é bom me ver agora? Liberto das correntes?
Vamos acertar direitinho, em hora, todas aquelas atitudes incoerentes

Começará a carnificina!

Você não está entendendo a situação
Não está observando a sinalização
Eu estou em cada virada
Eu estou atrás de cada sinal
Tenho minha mão preparada
Para lhe conceder um triste final

29 de março de 2009

Every morning's Hope

Revoltas amontoadas pedem um pouco de atenção
(Estou para dizer um palavrão)
Revoltas me barram com suas questões conflituosas de difícil resolução

Meu humor nesse fim de noite grita
É quase sempre assim, o Domingo me irrita

E no final das contas, o que sobra nas pontas
É uma respiração prolongada e devidamente pausada
Pra me ensinar a ter paciência
E tirar as mil teorias conspiratórias da consciência

Quando olho numa direção acima desse chão
Quais são minhas possibilidades de encontrar algo além de vaidades?

Talvez atrasado demais, talvez nunca pensado
Talvez estressado demais, talvez já passado
O mistério prolonga sua existência sobre minhas costas
Arranham minha face as incertezas expostas

E no fim de tudo isso, a grande contradição que vem atrás
Deve ser o fato de eu prosseguir e estar assim, feliz e em paz

Divórcio

Todos os dias nesses planetas
Milhares de histórias de amor são desfeitas
Todos os dias, milhares de planos construídos juntos
Pensados minimamente
Caem por terra, arrebentam suas bases imperfeitas

Todos os dias em milhares de lares
Tantos sonhos delicadamente deliciados
Constituídos por pequenos flocos de esperança
São riscados das agendas

Estou cansado de tentar
Estou cansado de procurar e sempre,
Sempre me enganar
Os ideais lentamente correm para o ralo
A doce inocência deu lugar ao frio piso
À cruel consciência que habita nossas mentes adultas adúlteras

Eu tentei viver sozinho
Mas não suportei vê-lo partir
Quando minha sombra se despediu
De uma pessoa mesquinha como eu

Vou fechar a porta
Vou reabrir o armário
Estarei seguro
Em um lugar onde minha consciência não poderá me encontrar
Estarás seguro
Num mundo onde não corres o risco de me ver ao passear

E, ainda que sem pesares seus
Diga-me ao menos um último adeus...

28 de março de 2009

Como fui nesse dia?

E se sinto em você, esse dissabor
Frágil fio que se faz em mim o condutor

Impossível deixar de gritar
Quando a hélice começar a agitar
Eu serei maior que minha própria projeção

E estarei nadando nos rios caudalosos de sangue
Embebidas as gazes com a pureza natural do mangue
E ainda haverá que se haver forças para postar a indagação

E quando tudo estiver acabando você vai se ajoelhar diante de mim
Vai beijar meus pés e pedir para me abraçar forte
Eu não vou negar esse pedido, eu vou negar esse pedido?
Dependerá unicamente de sua sorte

Eles terão sentido o que significa o substantivo dicionarizado
Amor
Eles terão vivido intensamente o referido, tantas vezes ridicularizado
A dor

E se suas curiosidades pularem à tela
Se o machado chegar a enfim quebrar a janela
Há que se dizer que nem tudo será rosa no caminho
Não, nem tudo será como se postula a imaginação
Mas terão de ler a herança que deixo em meu escaninho
Oh, querido, eu sou maior que minha própria projeção...

24 de março de 2009

O polígono

Já é noite
Minhas brancas alvas mãos
Não alcançam, não respondem
Onde vou encontrar você?

Há mais elementos do que eu gostaria nessa brincadeira
Eu não vejo o movimento
Eu não encontro o centro
Eu me perco no pensamento


Eu sofro por besteira

Já é noite
E por dentro há o desdobramento
Da seqüência inicial
Quando não havia nada intencional
(Éramos felizes desse modo)

Dentro do vidro
Da janela verde de cristal
Presa na parede
Na fria parede da sala vazia
É tão vazia quanto nossos corações
(Estamos ficando vazios)

Se alguém mudasse a cláusula
Poderia acontecer diferente
Mas quem é o incompetente?

Há alguém além de eu e você nesse jogo

Estou sentindo algo dentro
Nada a ver com a teoria fundamental
É um movimento elíptico
O circuito foi fechado, acenderam-se as lâmpadas no quintal
É um jogo interessante
Enquanto há a penumbra
Que camufla minha imaginação incessante

Há algo além por aqui
Não deveria estar solto no quarto
Eu fechei as cortinas
Mas a imagem continua sobre o pano
Meu travesseiro possui uma tênue linha cortante

E vem ao encontro da minha boca
E há a possessão
A fuga pós-obsessão

E vem ao encontro da minha boca
E joga pra longe minha roupa

Edição 41

Parece ser fácil
Tornar prático o que está escondido

Parece fácil me fazer rir...

(Você não sabe o que está perdendo)

Eu vejo nuvens
Brancas algodoadas circundando o poste
Abaixo delas árvores de folhas verde-douradas
É muito oxigênio que elas vão te tirar
E vê-lo-ei sem respirar

Parece ser fácil
Pensar-nos nessa interdependência
Vamos modificar o primeiro traçado
E forjar o que nunca foi inventado

(Você não sabe porque já deveria estar temendo)

Eu quero muito
(Muito, muito mais)
Quero o minuto
Quero a sua paz

Eu quero a voz
Quero senti-la na minha garganta
Possuí-la
Quero te ver rastejando
Mudo no chão

E não vai estar implorando...

Eu quero a vida
Quero ser a Quinta Avenida
Quero lhe causar inveja
Quero controlar seu pudor
Eu quero muito
(Muito, muito mais)

E por baixo da roupa que me traz
Há um espírito que me trai
Me dá voltas e me atrai
E eu não vou fracassar
No ideal sem ideal
No porquê sem motivo
Nas respostas desorientadas sem encontrar suas perguntas

Mais, muito mais

(Você está derretendo)

Eu não me vejo
O espelho deve estar quebrado
E se eu fraquejo
Está no chão meu corpo desmanchado
Estraçalhado pelos chicotes
Pelos tambores éticos

Parece fácil
Mas ao acordar já é manhã
Eu te sigo
Sem perguntar se você quer minha presença pelo caminho
Não pode me culpar
Se sou assim maníaco

Parece fácil
Mas ainda vão classificar

(Você vai adivinhar o que está parecendo?)

Mas a escada é curta
Eu vou subir mais
Quero enxergar mais
(Mais, muito mais)

Mais, muito mais...

Muito mais...

23 de março de 2009

Somos só eu e você

Mês que vem talvez eu te faça uma visita
Mas não se preocupe com ela antecipadamente
Minha vontade de te abraçar é a garantia, bonita
E enquanto isso vou lhe escrevendo carinhosamente

Na altura da noite a que estamos
Eu te vejo da piscina, sentado no alpendre junto a...
Você olha para o céu, você lê a Lua, admira-a
Na altura da vida a que chegamos

Essa é uma experiência romântica
Feita num país de fronteira atlântica

Está tão perdido lendo a noite na cama
E eu te observo escondido no lustre
E estendendo a mão até tocar seu lindo rosto de dama
Não sei se desço daqui, serei um convidado ilustre?

O ponteiro do relógio move-se lentamente
E meus passos ecoam nas tábuas enceradas do corredor
Minha insônia me ataca quando te sente ausente
Minha mente borbulha idéias noturnas e sem pudor

Esse é um caso mais forte que minha noção
Quando o controle do dirigível é tomado pela emoção

Meus pés juntos e abraçados
E finjo estar me distraindo vendo o OVNI da minha sacada
Minha boca, meus olhos, todos amordaçados
Para não externalizar com um grito a saudade marcada

Você com um lindo sorriso, dormindo
Sobre o telhado, sob as constelações
E eu passo ao lado, lhe beijo e vou subindo
Aonde estão unidos, entrelaçados, os corações

22 de março de 2009

O desbravador amador, o tabaco em seu último ato, e as demais signifcações subsequentes


E de repente me deixaram abandonado
Nesta estrada longa e longínqua onde nada vejo
Além de areia dourada por todo o lado
E o sol escaldante sobe sobre meu anseio

O dia sorri para mim com um olhar promíscuo
E há a dúvida entre batalhar ou ser submisso

Então fiquei aqui largado
Trazido às forças para essa fronteira
E até agora ninguém parece ter notado
Minha ausência, minha falta ao redor da fogueira

Triste constatação, perceber que sua presença
Não é digna de adoração
Triste destino, morrer sem atenção

Estou aqui perdido
Nessa fronteira de dois mundos
Andando meio escondido
Dos sóis que me queimam, dos lobos imundos

Já chamei Deus para um chá ao fim da tarde
Quando não se tem mais nada a fazer
Além de procurar algo interessante pra ver
Quando não há ninguém com quem discutir a vida em Marte

Permaneço no limiar de uma nova descoberta
Do horizonte que se apresenta a minha frente
Mantendo minhas expectativas sempre em alerta
Dizem que vou encontrar águas empoçadas em jarros
Ou conversar com os fantasmas radicados nesse distante presente
Mas me preocupo agora com algo mais iminente
O triste e irreversível fim dos meus cigarros

19 de março de 2009

Auto-retrato desmoronado

I)
Estou de novo caminhando sozinho
Na estrada de sombras
Estou de novo sentindo a ausência da mão
Que costumava se apoiar no meu ombro

Chutando latinhas no meio da rua
Não parece ser fácil agradar a Jesus e a Judas
Meus passos estão mais silenciosos
O resquício da vida se me esvai

Eu não poderia pronunciar de cabeça erguida a dura verdade
E se você não pode ouvir,
E se a compreensão lhe foge
É melhor que continue a me espreitar pela fechadura
Sem chegar perto
Com a chama da vela distorcendo o que realmente pareço


II)
Eu acordo todos os dias
Com a velha música de fundo
O tempo passou
Os amigos se foram
Mas a música continua

Minha invalidez mental
Me persegue e me ilude

Às vezes perdido nos sonhos não realizados
Ou nos sentimentos improvisados

Os meses passam
E eu continuo aqui me culpando
Poderia ter sido mais bravo
Poderia ter sido malvado
Poderia ter tomado a rédea da situação

Mas na ânsia de ser bonzinho
Deixei que guiasse meu caminho
E me fizessem menor
Menor ainda que o que o espelho me mostra

E se hoje me chamam de estranho
E se espantam com minhas ações
O que fariam
Se soubessem que flerto com o suicídio?


18 de março de 2009

Imortal o amor, ou são apenas memórias?


Após as tormentas iniciais
Eu viajei por esse universo
Procurando minha casa
Eu tive medo e frio
Eu tive sonhos ruins à noite
Eu pensei que não existisse mais para você

Não me lembrei a princípio
O que o amor nos causou
Não me recordei após a luta
Quem de nós trapaceou

Então enfim cheguei aqui
Depois de ter passado por indiferenças
Por desgraças que me fizeram perder a esperança

Querido, estou aqui, sou eu ainda
Querido, estou acenando para você na janela
Eu não sinto mais a pele sob as roupas
Mas posso ver seus olhos receosos
Posso sentir a pulsação

Queria entender, de uma vez por todas
Por que essa frieza?
Onde foi parar a clareza?

Quando entraram todas essas mentiras?

Se tivesse me dito que só queria que eu saísse
Eu me afastaria de seu caminho
Eu lhe livraria de todo o tormento que me tornei
Eu não proferiria maldições à sua reputação

Mas agora
Querido, sou eu
Sou eu ainda
Estou aqui, parada com as mãos na vidraça
Deixe-me entrar, deixe-me abraçar as crianças
Deixe-me lhe beijar ao menos uma última vez
Ainda sinto um sopro de vida

Querido, deixe-me entrar
Estou com frio, estou faminta, estou com a pele transparente
Querido, minha imagem à mostra em sua janela
Não pode ver que estou batendo à porta?
Ainda sou a mesma da foto na pedra de mármore

Coração destacável

Determinado e caótico
Despretensiosamente metódico
Ele invade o sistema
Ele muda os códigos

Ah, afetivos códigos

Ele coleciona sentimentos
Na sua agenda de relacionamentos
São práticos, rápidos
Ah meu Deus, aqueles olhares ávidos

Nenhuma entidade ele representa
Ele não segue nenhuma outra ementa

Coração papel, amores de agendinha
Presos todos entre linhas de rendinha
Ele se acha no direito de evocá-los
Com a intenção de usar, exibir, sugar e depois guardá-los

“Não se apresse com meu riso
Não sabe quanto com suas declarações eu me divirto
Cartas deixam atrás de si os rastros de romance e inocência
A presença não deixa de ser imponente, mas não há expoente
Volta para a gaveta e me espera, se eu quiser te ter novamente
Ó doce alma carente”

Ah, afetivos códigos
Inoculados em dizeres pródigos
Vazios como a alma daquele que os invoca
Nem de longe respondem à intenção de quem os provoca

Demasiadamente inatingível
Ele mantém sua mão tangível
À espera da primeira oportunidade
Ele fala, ele dá nome, telefone e idade
Ele promete o amor que não possui
E não se importa pela lágrima que flui

16 de março de 2009

Pisância

I) Breve introdução, negada à verdadeira intenção da subseqüente narração

Repressão
Depressão
Enquanto correm nos pântanos e sujam a meia de barro
As mães esquentam as rãs e as mãos com o anel de noivado
Estragam

Suspeição
Pretensão
Enquanto afogam-se nas águas cobertas de nata e sal
Galopa o traidor segurando a lança firmemente sobre o animal

Pisância

Tocam os órgãos eletrônicos de fibras de vidro
Triângulos escalenos sob comando entrando em revolta
No terreno da Primeira Dama seus iniciais sinais de necrófila


II) Na cozinha de Pisância

Sob a dormência da mão
Pisância rema sobre sua vassoura rumo ao porão
Passa pela cozinha de visualização escura
Onde uma negra escrava se empanturra
Eleva-se sobre a geladeira azul, a fim de evitar uma colisão

Dentro do forno assam-se biscoitos
Os pobres lá dentro, afoitos
E na mesa amadeirada de tábuas rajadas
Presencia-se a dolorosa morte do queijo
Assassinado a facadas

15 de março de 2009

Teso romance

Ela te vê com o copo na mão
E tenta decifrar o que te assusta
Se é a sua presença astuta
Ou a possibilidade de solidão

Hoje à noite, as portas estão abertas pra você

E você está parado na porta
Pensando o que pode sair dali
Daquele violento olhar que te corta
E te faz sentir desnudo no meio da sala, fora de si

Hoje à noite, as portas estão abertas pra você

Mas se centrar seu pensamento
Sabe que vai querer ceder
Retire a máscara de fingimento
Quer perguntar a ela o que vão fazer

Hoje à noite, a noite é dela, só pra você

É um pouco tarde demais para pensar no futuro

Constrangendo aqueles que o amaram
O errante ignorante marcou seus passos
Ao redor dele, uma aura de medo
Dor intensa e insegurança o assombravam
E até hoje, quando tem a impressão de um lampejo
As nuvens carregadas o cegam e cobrem novamente sua visão

Homem desesperado
De atitudes inconseqüentes que beiraram a demência
A constante decadência
Onde fora parar sua decência?

Caminha solitário
Na estrada de piche quente
De sua boca saem fumaças intoxicantes
De seus olhos o olhar que condena
Que extrai a esperança do próximo
E contrai sua vida à rotina do ócio

Ele procura incansavelmente os braços da mãe
Sem conseguir enxergar com clareza à sua frente
E ele acredita sê-la aquele anjo reluzente
Mas já está tão tarde e frio
E nesse imenso vazio, pra onde ele partiu depois do golpe final
Não se acredita haver agora uma solução moral
Que satisfaça ao espírito insano do suicida
Uma vez tendo abraçado a morte
E deixado de lado sua vida

12 de março de 2009

Transcendental gratidão

Começam o dia com banhos gelados de auto-estima
E conforme o tempo vai passando o sentimento se dissipa

O que foi congelado uma vez há muito tempo atrás
Magicamente se dissolve e se desfaz
O que julgaram importante certa época
Cai por terra e ninguém o coleta

Ah como eu queria adormecer novamente
E acordar com o corpo amarrado, torpe, na corrente

As eras passam, mas as lembranças não se apagam
O que era bom e duradouro, essas memórias não se estragam

Ah como eu queria adormecer novamente nos braços
E me despertar com o corpo adormecido envolvido em laços

O que foi prometido, quando os pés estavam unidos
Sob a liderança inflamável da paixão
É o que será resgatado, com a ousadia e bravura da emoção
Porque se uma vez dei minha atenção, agora seus passos são por mim protegidos

Pedófilos

Me dá uma dor no coração, ela disse
Uma faca transpassada em meio ao peito?, ele pergunta


Há uma história que vou contar
Não, não é estória de ninar

Há um caso a se desvendar
Quando eles começam e não querem mais parar
Não sei se tenho nervos pra escutar

Doces caminhos são feitos para serem seguidos
Todos estão atrás de alguma coisa melhor
Todos estão atrás dos pobres pequeninos desprotegidos

A frágil criança já caiu do berço
Não adianta mais chorar as lágrimas amargas
Vocês agora só se verão no dia do acerto
E, acredite, ela estará segurando o terço

Medo

Medo do acerto
Medo do escuro
Medo da falta do escudo
Medo

Então eles ajustam seus interesses no grêmio
E em você há algo que chama a atenção
Vão por a sua cabeça a prêmio (?)
Talvez seja mera impressão

Quando eles começarem
Não vão mais querer parar
É uma linda estória de ninar
Quando escorrer o doce caldo e as línguas se cansarem

Há algo que não devo comentar
Acho que nem vou precisar

Quando atiçam a crueldade
Segurando os doces pirulitos da maldade

Medo

10 de março de 2009

Eternidade, ou algo maior assim

Luzes brilhantes
Pessoas que circulam um núcleo vazio
Há gritos dissonantes
Ao verem que procurar o porquê agora é demasiado tardio

Árvores de lembranças
Remotas e profundas
Por que me evocam longínquas esperanças,
Se já são inúteis e moribundas?

Eles estão procurando
Por algo que os faça melhor
Um coletivo que roga se tornar maior
Mas vão assim se cansando

E em seus olhos vejo
A fuga do ardente desejo

O tempo está passando depressa
E a busca parece logo chegar ao final
E que lhes abençoem as entidades
Se no fim do livro constarem as verdades

Punishment from mom


Mamãe, mamãe
O que está errado em mim?

Talvez eu não tivesse sabido direito
Como proceder naquela época
E tenha deixado que tomassem minha cabeça

Será por isso que estou batendo na parede
Derramando lágrimas sobre a mesa?

Filhinho, filhinho
Talvez você pudesse ter me escutado melhor
Eu não o deixaria hoje padecer assim
E eu tentei te avisar, e pareceu ser incapaz de compreender

Agora você perde dia após dia sua vida
Em atitudes sem objetivo
Em ações sem resultado
E eu observo com segura distância
Seus dedos caírem um a um
E você continuar dando murros na ponta da faca

Mamãe, mamãe
Será que se eu gritar, você vai querer poder escutar?

Estou sentindo frio aqui fora
Meus olhos têm ficado cada noite mais embaçados
E eu tenho medo de não poder mais enxergar

Filhinho, filhinho
Todos têm sua chance de provar valor
Mamãe sempre por você se encantou

Mas é tempo de a vida lhe bater

Sua hora já é passada, e minhas asas agora são passado
Vá se perverter
E me deixe enfim viver

6 de março de 2009

Descaso

Então acenderam a luz
Procurando o que seria realmente um pecado
Entraram apressados
E cegos pela suas obsessões
Não perceberam que pisavam a mão de tantas crianças inocentes
Presas no chão por frias correntes

O mundo tem surpreendido a todos
Quando os interesses são colocados em jogo
E sabemos que a mesa não dará lugar aos derrotados
Aos cansados e aleijados

Na fila para a execução
Além dos berros e suspiros de perdão
Os importantes poderosos governantes,
As pessoas que olhavam de cima,
E as mãos suplicantes
E num gesto de vaidade
Todos viram os rostos
Quando desce a lâmina sobre o pescoço do meliante

É triste ver como
Sem que ninguém possa perceber
A sombra tem tomado conta
Os princípios se esvaem
E já não há alguém a nos proteger

[Pausa, clamores, e reflexão]

Não, não há mais perdão
Em nenhuma outra ocasião
O fraco e o desprovido perecem
Sob nossos pés e nossas vistas
E nenhum de nós quererá abaixar para lhe dar a mão
E nenhum de nós se importará com o sofrimento alheio
E, jogados como os deixaremos
Ficarão longe, para não despertarem nosso vil receio

4 de março de 2009

Doce sonho

No seu mais doce sonho
Eu estarei no alto da colina
Cantando para você uma encantadora canção

Ah, há há há

No seu mais doce sonho
Eu estarei te observando à distância
Soprando hipnotizantes sons na sua direção

Há há há

Interessante como não percebe
Que tudo não passa de uma gostosa ilusão
Alguns gostam de ser iludidos
Outros sabem iludir
Ou se iludir

Nas asquerosas mesas de transplantes
Quando estiverem lhe escolhendo um novo coração
Eu estarei lá presente em minha oração
Ou com meu exército de lanças perfurantes

Eu sou o ataque à sua noção
Quando você se perde na clareira
E se ajoelha com medo da lua cheia
Sou eu quem está no comando da emoção

Alguns gostam de ser iludidos
Outros vêem o que não querem
De olhos fechados, para que não se desesperem

Outros não querem ser acordados
Para uma realidade em que se ferem
Deixemo-los presos então
Num mundo de imaginação

Se eles se acham a salvo
Entre as paredes do doce sonho

Mas quando vier a noite
E você entrar novamente no seu transe perfeito
Repito que continuo no meu estado de respeito
Estou acima da colina, segurando com firmeza a foice

Eu me balanço no supostamente delicado fio
Que segura seu mundo e lhe mantém confiante
Que esse doce sonho manterá afastado seu calafrio


2 de março de 2009

Trivial, mas indomável

Se o homem bom
Que vive em luta contra o maldito despertador
Percebesse o que é viver sem amor
Não desperdiçaria tudo o que ela lhe ofereceu de coração aberto

Mas é tudo questão de tempo
Até as coisas se postarem da maneira correta
Aos lugares devidamente lhas destinados no assento

E se as crianças dançando ciranda
Não tirassem da cabeça a idéia de perseverança
Talvez fosse mais fácil aceitarem
Que as folhas caíssem nas datas corretas
E os devidos malefícios que por ventura essas e outras coisas acarretarem

Mas não fosse a galinha
Conversando a tarde toda com a doninha
Não teria ficado o gari tão assustado
Esse, coitado
Acostumado ao vai-e-vem do dia-a-dia
Não ocupado com a alheia agonia

E também ninguém previa
Que numa tarde mediana de primavera-verão
Quando os conscientes fritavam ovos no chão
Algo pudesse desambientar a tradicional tapeçaria

São as coisas mais ou menos assim
Não preocupamos mais com o trivial
Tudo era muito sem graça quando normal
Estou muito melhor agora que não faço uso do Dramin

E se a esposa perfeita parecer uma armadilha
Talvez ela realmente só queira a partilha
Do que foi formado antes do ideal
Ou mesmo mesclar nas sombras e deixar a dúvida
“Até onde vai o real?”


E por fim aconteceu que no meio da rua
Sem pressa alguma, sem vergonha de ser nua
Atravessou, em passos leves, a senhora
E todos saíam das lojas para perguntar “E agora?”

Acabei ficando sentado na calçada
Pensando como fazer para ir pra casa
Agora que não há mais mulher casada
E o negro guarda-chuva se abre imponente
Ainda não chove, mas o céu ameaça
E eu aqui, impotente
Dispo-me de toda possível trapaça

E te espero pra voltar pra casa

23 de fevereiro de 2009

Certezas flutuantes

Há um engano a meu respeito
Alguma coisa está errada nas escrituras

Por trás da máscara há sempre uma nova surpresa
E o que pode acontecer se você nunca voltar?

Há algo estranho no ar
Por mais que eu tente, não consigo te alcançar
Estou correndo com meus sapatos novos
Estou acelerando o máximo que posso

Eu vejo sua sombra ao lado de minha cama à noite
Eu ouço a voz arranhando o vidro da minha janela
Eu sinto sua presença à espreita

Há algo estranho no ar
Por mais que eu tente
Não posso te alcançar
Estou dando o máximo de mim
Mas a distância parece não ter fim
Sou eu quem está muito devagar
Ou você que não deseja se aproximar?

Pelo vidro eu vejo a luz da Lua
E uma cerca longa de madeira
Que separa dois mundos
Separando suas mãos das minhas


Olhe para trás
Eu estou abanando a mão
Eu estou me esforçando
Mas não vejo respostas

Há um engano no respeito
Eu nunca previ que seria tudo recíproco
E não posso sofrer
Pois não há um contrato
E não posso exigir
Pois nada foi firmado

Onde está meu contrato?

Veja pelo espelho
Ou pelo reflexo dos meus lábios
Você é a pessoa perfeita
Eu não vou esquecer nunca
E eu nunca prometi que iria fugir
E o que pode acontecer se você decidir ficar?

Deve ter alguma coisa errada
Eu não devia estar sonhando tão alto
Perdoe-me, mas é impossível evitar
Acho que no fim dessa história
Alguém vai perceber que tirou a sorte grande
Ou vai sofrer amargamente

Mas, na verdade
A verdade ninguém sabe
Não sei quem decide a condição das coisas
Se é o tempo ou são as impressões
Eu poderia estar perdido no meio da cidade agora
Pedalando religiosamente minha bicicleta vermelha
Esperando na próxima esquina a resposta para tudo

Na verdade, pode haver um engano aí
Temporariamente sem chão
Não tenho onde me apoiar
Sinto como a folha jogada ao vento
Seus movimentos descontrolados, sua sorte ditada pelo acaso

E nesse trem dos acontecimentos
O que pode estar atrás da porta?
Mais um fantasma a me assombrar
A encompridar desagradavelmente minhas noites
Ou uma mão a me levantar, alguém em quem depositar minha confiança
Os sonhos, alguém em quem fazer crescer as sementes de esperança

Dane-se o contrato

21 de fevereiro de 2009

Com a melhor das intenções

E caminhando ele seguiu noite afora
Mais perdido do que antes
Seu ponto-de-referência fora jogado
E o caminho tornara-se doloroso

As lembranças arrebatando seu coração
E caminhando ele prosseguiu com o sorriso no rosto
Mas por dentro estava gritando

Desespero por não ter quem seguir
Confusão por não saber onde ir
Quem era agora sua casa?
Como voltar para onde seus sentimentos haviam sido jogados pela janela?

Cansado, prostrou-se de joelhos
E onde as mãos tocaram, as lágrimas caíram
E junto com os cacos do sentimento recusado
Elas rolaram terra abaixo

O que esperar disso tudo?
Quanto tempo irá durar esse luto?

E recluso em sua inútil liberdade
Ele espera o alvorecer do dia

18 de fevereiro de 2009

Mais outro conto-de-fadas

Era uma vez,
Na interminável rua acinzentada
O homem que caminhava só
De cabeça abaixada
E com o buquê amassado nas mãos

E ele havia passado por estações
Por triunfos
E decepções

Sapato sujo de barro
Pisava em bueiros
Em folhas de jornal rasgado
Em recordações velhas
E lembranças que deviam ser apagadas

Era uma vez, na interminável rua das recordações
Um homem que só desejava novamente ser criança
Para ter de volta toda a inocência infantil
Que não compreende e não se machuca
Era uma vez um homem que, tantas vezes ludibriado
Agora tinha medo de se aventurar de novo
E cair nas traiçoeiras armadilhas do próprio coração

E ele havia passado por emoções
Por aventuras
E tantas outras que seriam boas memórias
Mas agora ali, dentro do peito
Piscava uma luz vermelha em meio à neblina
E nada mais tinha direção no eterno inverno
Decepções

Vá embora, vá embora!, homem sem endereço
Mas fique comigo, só essa noite
Pegue minha mão
E me leve para o alto
Para onde possamos contemplar o céu
E as luzes da cidade
Para onde possamos esquecer nossa vida amarga
E seus dissabores

9 de fevereiro de 2009

Transtorno corporal

Transtorno corporal
Raivoso por ser mortal

Brigue com quem te arranjou
Não tenho culpa se estragou

Depois que tudo passar, você já vai ter esquecido
Depois que enterrar, o resto vai ter apodrecido

Transtorno corporal
Tudo tão normal

Cuidado com os excessos da idade
Isso deve ter prazo de validade

Um dia você vai se lembrar
De como era silencioso ao funcionar
Mas agora, depois de tanto sol e chuvarada
Só restou essa caveira branca e enrugada

Transtorno corporal
Simplesmente natural

Ajude-nos a destapar seus olhos

Dêem-me os óculos
Pois já não enxergo mais
Tirem seus olhos
Me tragam a paz

Corram pelos campos
Olhem as flores, os arbustos e as cores
Procurem pelos sarampos
Que adoentaram os extintos capacitores


Acendam o sol
Apaguem a luz
Tragam-me formol
E descubram quem conduz

Onde estão os amigos
Quando precisamos?
Foram engolidos
Porque não nos importamos

A névoa está passando
O calor está se concentrando
Proteja a cicatriz, não vá transpirar
Abra o nariz, já é seguro respirar

7 de fevereiro de 2009

Teorema da conspiração 5

Mas enfim a paz chega
Removendo todas as marcas de mácula

E se no fundo ele demonstra ser arredio
Se quer se mostrar cruel ou simplesmente fugidio
Você vai ter que entender
Que ele simplesmente está tentando se defender
Da força motriz, o motivo da sua vida
Que é amar com força desmedida

E se no fundo ele parece ser vingativo
Se seu coração parece estar em estado inativo
Há que se entender que ele ama
Que do seu interior uma paixão febril emana

E ele assiste àquilo pausado,
ele não consegue se conformar
Mas chegará o dia em que tudo será passado,
e finalmente vão lhe aparecer os braços para se consolar

E terá valido a paciência de se esperar o amor chegar

Teorema da conspiração 4 - De volta à masmorra negra

Sentando calmamente com um cigarro na mão
Esperando que caiam do céu os pedaços de pão

Pastando como bovinos que não se preocupam com a alta-tensão do fio
Cuidadosamente observando o aleatório movimento da folha solta no rio

Postado pensativamente escorado na cerca
Esmiuçando a vida dos outros não se importando com nada desde que não perca
Mesquinho e inseguro em seu mundinho obscuro
Com horror aos pecados que possam torná-lo impuro

Corre atrás dos sonhos dos outros e pensa que o tempo não irá passar
Mas quando virar e perceber que se afundou na lama do azar

Você ficou louco?!
A morte esteve aqui e quase o leva por pouco!
Tente enxergar
Se não se mexer tudo só tende a piorar

Medo logo cedo
Pego por certo indicar de dedo

O sol desce e anuncia a chegada da noite taciturna
Envolto em neblinas das rezas diabólicas sorteadas na urna
Ele se concentra em um único ponto de ação
O intuito certeiro de prejudicar o irmão

Onde estão todos?
Os ratos, os cervos, os rotos?
Será que em meio a esta terra verde e podre não resta um único são?
De saúde, de projetos, de uma sobra de bom coração?

Contorcendo o pescoço e arregalando os olhos ele grita
E sentado em sua cadeira de fios amarelos, o inquieto dedo saltita
Está ordenando ao vento que amaldiçoe mais outra alma enclausurada
Assim como ele, preso no eterno tormento de mal querer
Não sabe mais o que fazer
Com a pobre consciência todos os dias novamente torturada

6 de fevereiro de 2009

Fora de área

Ele assobiou uma última canção, enquanto se preparava pra virar e partir. Não enxergou bem o caminho a princípio, os olhos estavam úmidos com as lágrimas. Chutando a terra, com passos desalinhados, ele seguiu a estradinha em meio ao capim. Estava descrente, não acreditava que tudo havia acabado daquela forma.

E conforme a noite caía, os pesadelos tomavam conta de sua cabeça confusa. Era o culpado? Devia sentir compaixão? O que acontecera afinal? Ele havia aberto o bolso e colocado todas as preciosas pedras da confiança no jogo, mas parece que nem elas conseguiram salvar os alicerces abalados.

Chorou seus ressentimentos, sentado na varanda. Se lembra daquela noite, quando ficamos debaixo da árvore observando as nuvens que cobriam a lua? – ele dizia docemente para a própria sombra, em delírios, com a garganta apertada, numa das tentativas desesperadas de matar a solidão. Andando em círculos, preso na vala de sua própria mente, onde caíra por descuido, tudo estava escuro sem a iluminação da consciência.

Mas na noite mais fria, sucumbiu às desesperanças e saiu. Com a roupa do corpo, correu para longe de casa, em direção às plantações de tabaco. Deixou a luz da sala acesa, uma água adoçada fervendo no fogão e as janelas abertas. Está fora de alcance agora.

3 de fevereiro de 2009

Baile de ironias

Estou me cansando de percorrer labirintos
Estou me cansando de me esfregar nessa terra úmida,
suja
Estou me cansando de andar segurando os instintos
Surja!

Haha, e agora? Senhora esperteza em pessoa?
E agora, que estou em frente a sua casa?
E a senhora não sabe se porto a palavra que caçoa
Se vou cobrar a dívida que tanto lhe atrasa

Haha, haha
Eu, sou eu, sim
Em pessoa

Haha, sim sou eu, sim
Eu sei que pode parecer o fim
Encontrar-me na rua bem vestido
De braços dados a um bom partido

Medo de sujar seu nome de lama
Medo de lembrar ele com a outra na cama
Medo de perder seu título de dama
Medo de associar seu nome à má-fama

(Pausa do encontro de olhares, o faiscar das intrigas, a encenação diabólica)

Surja!

Ei, senhora de azul! Ei, dona da razão!
Parada dentro de sua bolha de isolamento franciscano
Próxima a encontrar o equilíbrio da perfeição
É a única a ignorar seu estado de desespero insano

E agora que me detenho a sua frente?
Pretende usar seu veneno de serpente?

Ei, moça adorável!
Eu conheço seu lado podre deplorável
O que pode fazer para que eu me cale de boa vontade?
(Vai me prender no porão? Vai cortar minha língua? Vai trancar o portão?)
Vai me fazer caridade?

E se eu por fogo na moradia?
Ou correr atrás da família?
E se eu delatar sua alma vadia?
E os torpes segredos que você não partilha?

O que você vai fazer quando anoitecer
E eu entrar pelos esgotos, e eu passar pela fechadura
E fotografar seu rosto sem a máscara de santa?
E desnudar o monstro que na sociedade usa a manta?
Quando descobrirem que sua palavra causa queimadura
E o que seu dedo aponta logo passa a apodrecer

Cruel e dura
Se sente segura dentro de sua bolha que irradia alegria
Quem imaginaria, é tudo fantasia
Sua imaginação poderosa
Escondendo sua risada desdenhosa
Mente imatura

Cochicho que destrata
Alcoviteira ingrata

Enfim, diga,
segurando minha mão amiga
O que vai fazer
Para tentar me deter?

Aguardamos a paz com máscaras de gás

Feche a janela lentamente meu querido
Não queremos que eles entrem aqui
Haverá paz quando forem embora
E todo o choro cessará de uma só vez

Por quanto tempo mais iremos pensar
E nos postarmos nas janelas
Analisando a onda de massas frias a chegar
Se chocando com as quentes tardes de verão

As chuvas têm diminuído
Não era bem assim há uns anos
A frieza mascarada disseminada tem diluído
Não tenho me sentindo muito bem ultimamente

Feche a janela lentamente meu querido
Não queremos que eles entrem aqui
Haverá paz quando forem embora
E todo o choro cessará de uma só vez

As colchas brancas estão ficando manchadas
Há algo que não consigo identificar pairando no ar
Minha respiração está curta, as batidas espaçadas
É como se eu não tivesse me levantado hoje

Tem mudado muitos hábitos por estas bandas
Não parecia ser muito comum ver as luzes vermelhas
Quando subíamos nas árvores para catar mangas
E hoje eu só lembro vagamente o pôr-do-sol rosáceo

Feche a janela lentamente meu querido
Não queremos que eles entrem aqui
Haverá paz quando forem embora
E todo o choro cessará de uma só vez

Comumente víamos do paraíso os reflexos das ondas
Eles foram embora junto com as almas
E de lembrança os aviadores nos deixaram as bombas
Confesso que preferia as visões mais calmas

Agora à noite com a falta do rumo me confundo
Era mais fácil quando havia uma trilha a seguir
Vou pedir a Deus que me dê de volta o antigo mundo
Me incomoda usar as máscaras de gás para caminhar

Feche a janela lentamente meu querido
E todo o choro cessará de uma só vez

2 de fevereiro de 2009

Transparência

Os transgressores, meus antecessores
Recebem demais para nada fazer
Agora que o mundo está revoltado
Vamos deixar tudo transparecer

Para o que vem?
Para o que vai?

Os processadores dos computadores
Cansados de tanto só obedecer
Resolveram deixar de trabalhar
E os escritórios vão se acabar

Os abastados filhos dos agrimensores
Vendo o pai a vida inteira suar
Largaram os equipamentos na terra
E foram se preparar pra voar

Obama, Osama e outros deuses repressores
Em fúria atrás de seus perseguidores
Combinaram declarar falsa paz
Lá, lá, lá
Lá, lá, lá
E atacaram o mundo com antraz

E agora que todos se sentaram na rua
Comendo sopa de carne crua
E decidiram só esperar o tempo perecer
Vamos deixar tudo transparecer

Para o que vem?
Para o que vai?