2 de março de 2009

Trivial, mas indomável

Se o homem bom
Que vive em luta contra o maldito despertador
Percebesse o que é viver sem amor
Não desperdiçaria tudo o que ela lhe ofereceu de coração aberto

Mas é tudo questão de tempo
Até as coisas se postarem da maneira correta
Aos lugares devidamente lhas destinados no assento

E se as crianças dançando ciranda
Não tirassem da cabeça a idéia de perseverança
Talvez fosse mais fácil aceitarem
Que as folhas caíssem nas datas corretas
E os devidos malefícios que por ventura essas e outras coisas acarretarem

Mas não fosse a galinha
Conversando a tarde toda com a doninha
Não teria ficado o gari tão assustado
Esse, coitado
Acostumado ao vai-e-vem do dia-a-dia
Não ocupado com a alheia agonia

E também ninguém previa
Que numa tarde mediana de primavera-verão
Quando os conscientes fritavam ovos no chão
Algo pudesse desambientar a tradicional tapeçaria

São as coisas mais ou menos assim
Não preocupamos mais com o trivial
Tudo era muito sem graça quando normal
Estou muito melhor agora que não faço uso do Dramin

E se a esposa perfeita parecer uma armadilha
Talvez ela realmente só queira a partilha
Do que foi formado antes do ideal
Ou mesmo mesclar nas sombras e deixar a dúvida
“Até onde vai o real?”


E por fim aconteceu que no meio da rua
Sem pressa alguma, sem vergonha de ser nua
Atravessou, em passos leves, a senhora
E todos saíam das lojas para perguntar “E agora?”

Acabei ficando sentado na calçada
Pensando como fazer para ir pra casa
Agora que não há mais mulher casada
E o negro guarda-chuva se abre imponente
Ainda não chove, mas o céu ameaça
E eu aqui, impotente
Dispo-me de toda possível trapaça

E te espero pra voltar pra casa

Nenhum comentário: