31 de dezembro de 2008

One missed call

Ele acordou assim, meio assustado. Quando a gente quer acreditar que ainda vai haver retorno, aquela ingênua esperança de que tudo dará certo.

Ei, menino do sorriso no rosto. Seu chão caiu.

Ele levantou assim, ainda não resignado. Sentou-se na mesa da cozinha, só. Trêmulo, mas sem entender muito bem porque, derramou lágrimas enquanto punha café na xícara simples. Amargo ele, mais que o café, não teve fome para nada além dos cigarros. Aquela infantil vontade de jogar tudo pro alto, levantar a bandeira branca e dizer Eu desisto!

Ei, menino do sorriso no rosto. Momentaneamente, você não é nada mais que uma ligação perdida. Um elo rompido. Pare de sorrir.

22 de dezembro de 2008

Rotina cíclica

[Parte 1]




Passos
Árvores 
Passos 
Noite 
Passos 
Céu escuro 
Passos 
Não há lua   

Passos...   


[Parte 2]

Observâncias no meio da noite 
Noite escura 
Na calçada ouço passos apressados 
De gente que não entende 
Que de nada adianta 
Tanta correria no domingo 
Para se chegar a uma segunda-feira   

Acendi mais um cigarro enquanto contemplava 
Do alto da janela
O ato sarcástico do passador de trotes 
Eram duas da madrugada   

Observâncias no meio da noite 
Noite escura 
Do alto da janela observava a calçada vazia 
De gentes e de almas 
Que com sua ausência 
Tornam o domingo tão tedioso quanto o é   

Cartão de crédito 
Contas do celular 
Telefone não para de tocar 
Cheguei à segunda-feira   

Acordo com a buzina 
Do caminhão que encontra em seu caminho 
A via obstruída   

Roupas novas 
O carro anda devagar 
Junto aos outros tantos carros 
Dos que vão trabalhar   

O rádio toca J. Tull 
Em meio ao shopping lotado 
Lojas cheias  
O mundo está funcionando  
O relógio se move incessantemente 
E o telefone do escritório não atende 
Provavelmente estão almoçando   

Observâncias no fim da tarde 
Voltam todos apressados do trabalho 
E impregnados da rotina 
Todos esperamos a nova meia-noite 
Que nos livrará da paradoxal segunda-feira   

E fica apenas como uma lembrança 
O ócio espantoso 
Do domingo monótono


19 de dezembro de 2008

Distant lover


Pingos de chuva molham minha janela
À minha frente apenas a garrafa de café
Que me mantém acordado
Mantém meus olhos vidrados

Rugas apareceram nos meus olhos
Preocupações me tiraram o sono
Mantive meus olhos vidrados

Fixo, o coração já não sente
Imobilizada, a mente não mais pensa

Precisava me despir da melancolia
Precisava rezar para Deus me ajudar
Olhar ao meu redor sem me desesperar

Já passou tanto tempo sem você
Que não sei mais como era sua presença
Um rastro de lágrimas manchou o chão
Onde um dia você passou

As palmas das mãos ficaram secas
E estilhaçadas as janelas da alma
Mantenho-me com os olhos vidrados

Noite
Pingos de chuva molham minha janela
À minha frente, a garrafa de café
O sofá de couro vazio
E eu me entretendo com o reflexo

Precisava rezar para Deus
Precisava de você pra abraçar
Sentir seu coração pulsar

Precisava de alguém pra conversar

O tempo passou
E preso em minha fantasia
De que um dia você voltaria
Meus ossos pereceram

Como eu queria que visse agora
Meus olhos fundos

Dia após dia
Noite após noite
Eu esperei
Eu imaginei

Eu nunca estive aqui antes
Andando nesse vale de lembranças
Colhendo folhas secas
Folhas negras
Pisando as cinzas dos nossos próprios cigarros

Com a janela aberta
Sentindo os pingos caírem gelados na minha face cansada
Eu tenho os olhos fechados
E me mantenho lúcido
À espera que essa noite acabe
E que semear esperanças não tenha sido um ato vão

16 de dezembro de 2008

Tempo da solidão

Acendi meu cigarro
E, no tempo de um trago
Passaram por mim
Suas lembranças

Não tem ajudado muito
Tentar me concentrar em tantas
Tantas outras coisas
Eu quero você aqui

Na solidão da noite
Senti falta de suas mensagens
Quando me acordava pra dizer
Que estava com saudades

Na fria escuridão
Chorei por não saber onde te encontrar
Em aflição
Temi não haver mais um laço

Apertei o play
E, no tempo de uma música
Quis desesperadamente
Alcançar seu corpo no ar
Te abraçar com todas as minhas forças
Sentir o calor dos seus beijos
E te ouvir falar que eu te transmitia paz

E agora?
Minha cama está vazia
Em vão minhas mãos procuram as suas
Em vão as lágrimas molham o travesseiro

Em vão passo as noites acordadas
A espera de uma ligação
Abraçado aos joelhos, no canto do sofá

Eu quero você aqui




12 de dezembro de 2008

Planos de Janeiro


Vamos viajar

Embarcar num navio em alto mar
Eu não sei nadar

Vamos passear
Ladeira abaixo
Asfalto novo e pneus a rodar

E eu não sei nadar

E você vai gostar
(Ah, eu sei que você vai gostar)

Aceite sem pestanejar
Aceitamos o Visa
Aceitamos o Master
Se for à vista, já pode entrar

Ah, eu vou voar
Braços abertos
Braços esticados
Braços a remar

Nuvens brancas
Mar azul
Azul gelado
Nuvens geladas

Nuvens brancas

Asfalto cinza
Asfalto quente
Pneus ardentes

Vou correr
Não vou me abster
Não vai parecer
Não vai perecer
Tenho o cuidado de não bater

Compre a comida
Compre as bebidas
Comprem seus cigarros
Não esqueçam meu café
Vamos viajar

Não sei onde vamos parar
Vamos viajar
Vamos velejar
Andar
Vamos passear

Atenção ao olhar
É bom observar

OK
Sinal verde pra embarcar