24 de fevereiro de 2011

Nós e Eles III

Eu me vejo em seu rosto. Eu estou sem roupas sobre sua cama. A foice cruel nos observa pela janela. Você me possui, a configuração esperada é modificada. O que se consuma aqui é o que nos consome lá fora. Há vida além de todas as inverdades. Há esperança?

Era uma vez, crianças que nasceram com um poder de reconfigurar a ordem ditada. Elas poderiam amar mais que todas as legiões doutrinadas. Elas eram capazes de uma percepção maior. Elas brincam, elas observam. Elas lhe representam perigo? Suas mentes aguçadas compreendem o que você escondeu além da cortina... Hoje aqui sentadas, poderão amanhã estourar uma revolução? O que você teme?

Esses pecados, serão todos verdadeiros? Como poderei resgatar minha alma após ter visto esse caminho? Estamos todos sendo enganados pelas mentiras ditas verdades? Por que se recusam a me abençoar se em minha memória não há crime registrado?

Houve um tempo em que rastejávamos pelos esgotos como vermes escolhidos pelo estigma. Mas nossos olhos se abriram para a verdadeira justiça. Acendam suas tochas, nós encontramos a tampa do bueiro!

Por que nos acusam como monstros? Por que nossas brincadeiras sexuais os chateiam? Estamos em todos os lugares, e a porta da casa da palavra foi fechada em nossos rostos. Pensem em nós, pensem em nós. Somos todos crianças atrás de um brinquedo. O que você teme? Amanhã estaremos estourando uma revolução.

Lacrem o bueiro. Fechem a porta. Somos apenas crianças, atrás de nossos sonhos negados. Nossas mentes aguçadas veem o que vocês esconderam atrás da bancada. Nós sabemos a verdade por detrás das mentiras camufladas de verdade.

Somos todos crianças atrás da inocência negada. Pensem em nós antes que tenhamos ido.


19 de fevereiro de 2011

Mea culpa

Não chore mais, meu amor, eu vou corrigir as minhas imperfeições...


Meus dedos batem na madeira consumida pelo desamparo que cerca as discussões minhas e suas, as atitudes, as cobranças ou essa e aquela falta de cuidados. Mea culpa? E se eu não conseguir me entregar a esse seu amor?

Eu caminho com mãos no bolso, chapéu me protegendo do sol forte que queima como a brasa sob nossos pés desgastados. No caminho do meu passeio, postes com lâmpadas que refletem os antigos casos terminados. No passeio que faço pelo caminho, os faróis dos carros me jogam na cara de volta a fragilidade perdida entre suspiros de autossuficiência. Nós nunca sabemos quando começa, mas ditamos o término com palavras enfeitadas. Mea culpa?

Mas eu carrego no pescoço o rosário rosa de contas cintilantes, eu o aperto, eu rezo. Minha lealdade jamais será abalada, e eu devo aguentar com braços fortes os estilhaços feitos pelas suas palavras. Mas não deixarei jamais que seja você lesado pelos meus momentos de fraqueza, pelas minhas lágrimas insalubres que, por quê?, brotam quando caio de joelhos nos pedregulhos de sua incompreensibilidade.

Entoarei cânticos e serei perdoado por você, meu amor, de todas as horas em que perfeição não foi a melhor definição para a qualidade de meus atos. Conseguirei ser perfeito. Porque minha história não é bonita, e eu não devo ter deixado boas lembranças nos corpos em que me deitei. Não, meu amor, meus interesses não serão colocados frente aos seus pedidos, às suas súplicas educadas embebidas em paixão.

[Preguiça.]

Que eu tenha forças para prosseguir com a bandeja, ainda que a imagem de sua consciência despreocupada me faça tropeçar. Minha fidelidade jamais será posta à prova, e meu nome será lembrado por essa bravura. Que eu não seja satisfeito durante essa vivência, mas estarei carinhosamente guardado na língua de todos os que já me provaram, em várias instâncias. Meus desgastes não reconhecidos serão meus méritos quando a caminhada terminar.

Eu se eu não conseguir agrupar motivos suficientes para me entregar a esse seu amor? Seu risco maior está em minha decisão de olhar para trás.