13 de abril de 2009

Nota de falecimento


Quando ele faleceu
Deu-se as quatro badaladas
E as senhoras de preto, engravatadas
Deram a última palavra para o não-judeu

Às quatro horas
Quando mais que o sol escapava
As meninas e as árvores de amoras
O carro preto em minha porta esperava

Passaram-se dias e noites, semanas
As cobertas brancas se sujaram
A poeira cobriu por toda a parte as entranhas
E sem seu fiel protetor, as rosas não prosperaram

A casa agora é vazia
Durante a noite, escura e fria
Ao longe se ouve o bater das janelas
Abertas ao vento, como ficaram também sujas as panelas

E hoje não tenho mais seu amor
E todos os domingos passo de joelhos na minha sacada
Contemplando de longe a serra, a paisagem amarelada
Na cama vazia, o fogo não tem calor

As promessas de eterno valor
As esperas e as vezes que estive às voltas
Com seu caráter protetor
E então despencam as revoltas

Nunca mais me apaixonarei por outro alguém
Não fará mais sentido procurar uma pessoa além
Tudo o que eu queria ter, a pessoa que eu queria ser

Agora é a tardia hora de me despedir
De seu corpo sem vida
De sua alma perdida
Soltando a mão, deixo de ser seu peso, deixo-lhe enfim partir

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