[N.A.] Maria pegou o
chicote, estalou no lombo
É hoje, levanta a
meia, amarra os cadarços,
Que chegou o dia
Da ponta donde vejo
a ponte, está meio a meio, prestes a cair no precipício
Mas se salva como
que por um fio úmido e transparente
Minha inocência se
vai viajando, de braços e mãos a velejar
Um mar sereno que
tranço com meus cabelos e fecha minha visão
Dali onde eu posso me postar, estou caído sobre farelos dourados, castanhas a brilhar
Dançando uma
ciranda sem ninguém ver meus passos, inventando que tenho o compasso
E olho por cima do
ombro, jogando charme ao léu, imaginando que alguém me veja
Da outra ponta de
onde me ponho, onde só estrelas há, e com isso a paz que brota no
meu coração
Sinto transparência
dos sabores que me perpassam pelos lábios, sorrindo
E a doce melodia das
folhagens, que acariciam meu rosto sedoso, pois que é feito de
memórias
O melhor observador
é inexistente, e por isso inigualável – ele olha conforme meu
gosto
A sanfona que toca
imprime o bater dos meus pés, que dão nós e os desatam,
impossíveis, impossíveis
Cresce por detrás
de mim o farfalhar das páginas, com elas os dias, os meses e as falhas
Eu enxergo por
vários prismas, sento e me admiro com o que meus olhos, geniosos,
contam-me
Eu vejo a família
crescer, eu festejo o desabrochar da vida em cada pequeno ser, eu me
orgulho
Na fila que eu deixo
trilhada, sem que seja responsável, ouço palmas e ritmo a (me)
vibrar
Da moita que balança
aos anéis dos quais já me soltei, pulso um forró natural, pés na
terra, poeira levantada
Minha inocência vai
me acalentando, já sou santo não beatificado, sei o valor de
minha intercessão
As sobrancelhas
escuras dão a gravidade que a mão, leve, não tem, e executo a reza
bem feita
O que vem após a
dobra da janela, o que nos espera após aberta a porta, é preciso
viver pra saber
Um comentário:
Lindo. Melhor é você voltar ao blogue por conta da euforia e não da depressão. Fico com a última frase. Não: desejo a última frase.
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