6 de junho de 2017

Passada rasteira

[N.A.] Maria pegou o chicote, estalou no lombo
É hoje, levanta a meia, amarra os cadarços,
Que chegou o dia



Da ponta donde vejo a ponte, está meio a meio, prestes a cair no precipício
Mas se salva como que por um fio úmido e transparente
Minha inocência se vai viajando, de braços e mãos a velejar
Um mar sereno que tranço com meus cabelos e fecha minha visão

Dali onde eu posso me postar, estou caído sobre farelos dourados, castanhas a brilhar
Dançando uma ciranda sem ninguém ver meus passos, inventando que tenho o compasso
E olho por cima do ombro, jogando charme ao léu, imaginando que alguém me veja
Da outra ponta de onde me ponho, onde só estrelas há, e com isso a paz que brota no meu coração

Sinto transparência dos sabores que me perpassam pelos lábios, sorrindo
E a doce melodia das folhagens, que acariciam meu rosto sedoso, pois que é feito de memórias
O melhor observador é inexistente, e por isso inigualável – ele olha conforme meu gosto
A sanfona que toca imprime o bater dos meus pés, que dão nós e os desatam, impossíveis, impossíveis

Cresce por detrás de mim o farfalhar das páginas, com elas os dias, os meses e as falhas
Eu enxergo por vários prismas, sento e me admiro com o que meus olhos, geniosos, contam-me
Eu vejo a família crescer, eu festejo o desabrochar da vida em cada pequeno ser, eu me orgulho
Na fila que eu deixo trilhada, sem que seja responsável, ouço palmas e ritmo a (me) vibrar

Da moita que balança aos anéis dos quais já me soltei, pulso um forró natural, pés na terra, poeira levantada
Minha inocência vai me acalentando, já sou santo não beatificado, sei o valor de minha intercessão
As sobrancelhas escuras dão a gravidade que a mão, leve, não tem, e executo a reza bem feita

O que vem após a dobra da janela, o que nos espera após aberta a porta, é preciso viver pra saber



Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo. Melhor é você voltar ao blogue por conta da euforia e não da depressão. Fico com a última frase. Não: desejo a última frase.