10 de dezembro de 2018

No escuro




[N.A.] Nadando dentro de uma memória, lamenta-se o arrependido
Pela oportunidade perdida
Pelo descaso presumido
Pelo telefonema ignorado

Remoendo-se dentro de lamúrias que esperam por um fim, tenta em vão encontrar um conforto para sua própria irresponsabilidade. Mas a conta não fecha.




Ausente a luz e passos desconcertados. Tem bebido mais nos últimos meses, e culpa o momento político do país. Sabemos, sabemos que no íntimo não é bem assim. Tem dado as mãos aos vícios mais espúrios e arreganhado a boca em risadas amplas, ruidosas, que se esparramam pelo ambiente. Mas se houver um exame mais acurado por dentro da boca, veremos uma garganta que berra sem sorrisos.

O peito infla, esconde o soluço, e o ar quando expirado fala de coisas feitas e desfeitas, com voz que apresenta absoluto domínio de tudo. A situação está sob controle, e quando se aproximam as festas de fim de ano, o balanço dos atos, é preciso exalar os resultados. Tudo embrulhado em falácia – ainda que com papéis sedosos. Inexplicável como passaram-se noventa, cento e vinte, cento e cinquenta dias e a angústia permanece.

No escuro tateia à procura do que perdeu por desinteresse. Não mareja os olhos, por vergonha, mas ardem as memórias tentando recuperar o rubor sentido antes, o encanto, a espera, a presença. Duas cabeças duras, duríssimas, mas foi a sua quem deu de ombros sem explicações, e quis voltar atrás quando era tarde demais.

À oportunidade perdida, se vale a pena, deve-se prestar as condolências. Quando a conta não fecha, é preciso aceitar o prejuízo.



Fonte: Pixabay

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