Na mesa, sobra das comidas ingeridas na noite anterior, quando a casa estava cheia de gente e de som. Agora, uma brisa gélida circulava pelo ambiente, embora circulasse fraca: era difícil passar pelas apertadas e poucas frestas das janelas de metal já com sinais de ferrugem.
Ele dormira de cueca. Nunca fazia isso, mas na noite anterior estava muito alcoolizado para lembrar de colocar seu pijama após tirar a calça Jeans.
Levantou-se da cama, mas com a dor da câimbra que o frio sempre causava à palma do pé esquerdo, caiu para o lado. Bateu com a cabeça na quina da mesa de madeira nobre, e gotas de sangue mancharam o piso de tábua corrida há muito não encerado.
O sangue escorreu gelado pelo quarto, encontrando abrigo dentre as valetas do piso. Ao longe, no fim do dia, podia-se apenas observar o corpo pálido, rijo e frio caído, sem vestimentas e sem vida.
Na mesa, as sobras de comida transformavam-se em pequenas migalhas pelo trabalho das formigas miúdas e organizadas. A casa estava vazia. Sem gente, sem som, sem suspiro. Na noite após a noite anterior, a sorte não sorrira para ele.
