14 de julho de 2008

Jogo de azar na noite anterior

Foi apostando na sorte que ele acordou naquela manhã fria.

Na mesa, sobra das comidas ingeridas na noite anterior, quando a casa estava cheia de gente e de som. Agora, uma brisa gélida circulava pelo ambiente, embora circulasse fraca: era difícil passar pelas apertadas e poucas frestas das janelas de metal já com sinais de ferrugem.

Ele dormira de cueca. Nunca fazia isso, mas na noite anterior estava muito alcoolizado para lembrar de colocar seu pijama após tirar a calça Jeans.

Levantou-se da cama, mas com a dor da câimbra que o frio sempre causava à palma do pé esquerdo, caiu para o lado. Bateu com a cabeça na quina da mesa de madeira nobre, e gotas de sangue mancharam o piso de tábua corrida há muito não encerado.

O sangue escorreu gelado pelo quarto, encontrando abrigo dentre as valetas do piso. Ao longe, no fim do dia, podia-se apenas observar o corpo pálido, rijo e frio caído, sem vestimentas e sem vida.

Na mesa, as sobras de comida transformavam-se em pequenas migalhas pelo trabalho das formigas miúdas e organizadas. A casa estava vazia. Sem gente, sem som, sem suspiro. Na noite após a noite anterior, a sorte não sorrira para ele.

Um comentário:

Unknown disse...

uma morte antecedida por uma intensa celebração. Morte digna, junkie, cult e por que nao dizer "iluminada"

...pq talvez ele tenha morrido pelo esgotamento nao de sangue, mas algo além etivesse pairando naquele lugar...(interpretação própria)

"eu e a bebida temos uma relação muito intensa de ódio e amor" amy winehouse

eu concordo plenamente!

obs: as vezs poderia ser melhor a morte do q a ressaca moral de uma noite totalmente apagada pelo alcool!