15 de setembro de 2011

Cenas de amor na fazenda

“E como ia a embarcação ao acaso, também eu adormeci. E no meio das águas, como ia a embarcação a esmo, também eu percorri milhas, inconsciente.”


No meio da paisagem noturna, o campo. Mata, árvores retorcidas, casinhas ao longe. E aqui, nos meus braços, o amor. Lá longe o som do trotar das vidas nas cavalariças, a poeira levantada, a ventania. Aqui, nos meus braços, a esperança.

Mas Maria não estava satisfeita, ainda precisava mais. Enxugar-lhe as lágrimas, recompor-me o cavalheirismo perdido depois de tanta contemporaneidade. Operemos o milagre, rezemos. Vou por todas as velas reunidas no canto da sala, próximas à teia da aranha esquecida. Fez-se fogo. Chiou o bule. Cenas de fazenda, cenas de simplicidade.

Noite passada, enquanto dormia, senti que alguém pegava minha mão. E mesmo que não pudesse enxergar pela altura dos milharais que nos rodeavam, guiou-me pela estrada correta. E atravessamos palácios de sabores diversos, de cores não dicionarizadas. E abençoou-nos um céu envelhecido. A cena típica do cerrado em seca. Nosso pés marchavam em sintonia, cortando, abrindo espaço em meio à vegetação trançada. À distância a música tocava, solitária, na casa sozinha.

No meio do campo, a paisagem noturna. Delicadamente composta, com todos os elementos no lugar. Lúgubre, contida, sóbria. A casa à meia luz, a vitrola com o disco em movimento, cortado pela ferina agulha. As sombras, a cerca, os faróis dos automóveis aparecendo e desaparecendo em meio à longínqua e acidentada estrada. No meio da paisagem noturna, nós. No meio do campo, duas figuras dançando no meio das duas horas primeiras. De mãos abraçadas, acertando passos, fechando os olhos, sentindo o sabor da ponta da língua. Dedicando juras de amor.

2 comentários:

Caio. disse...

Lindo, Tiago! Sou seu fã :-)

Anônimo disse...

:-)
Saudade do cerrado!

M.