5 de dezembro de 2011

O mundo já volta

"Um passo de cada vez. Lento e devagar, rastejando seu casulo bem atrás de ti."


Apagaram minhas luzes, sumiram com meus referenciais. No centro da sala um ventilador silencioso e branco a rotacionar como coruja um pescoço incansável. Ele olha para todos nós, ele olha por todos nós.

É muita fumaça pra uma só cabeça, é muita pouca luz pra tantas cortinas. Eu quisera pisar mas me dizem que por ora não temos mais chão. Estou ilhado neste lugar, terei de fazer daqui meu covil sórdido? Eu quero abrir as portas, embora lá fora só haja vácuo. Mas do centro da sala o todo onipotente continua a nos observar, mecânico, coordenado.

Um passo de cada vez e eu subirei essas escadas até o ápice desta torre. Mas enquanto passamos por suas janelas de concepção medieval não vemos nada além das nossas miragens, montagens criadas por ti para me agradar – iludo-me no discurso, expurgo (?) minha culpa. Mas eu estou sedento, continuo subindo, lento e devagar, arrasto-te junto a mim.

Muitos espelhos para poucas pessoas, ilusão criada por nós para nos dizer que aqui encontraríamos felicidade e prosperidade. Mas não há ninguém além de ti e de mim – nós, desprezíveis insetos que mentem o dia de amanhã para conseguir sobreviver neste. E uma voz paciente que ecoa a todo momento me dizendo “aguarda, o mundo já volta.”

Torres, castelo, espaços sem tapete, janelas quebradas, sumiram meus referenciais, não há luz. Na grande sala escurecida e desornada, um ventilador balança repetitiva e pacientemente sua cabeça circular. Em fuga desmedida eu pego da sua mão, te arrasto por todas as esquinas, tu te rebates entre as arestas. Agora te quero soltar de mim, mas não sais, estás entremeado, é visgo, é sombra, é maldição que se arrasta e segura meu pé.

Aqui não há ninguém. Tu que eras antes minha companheira, minha companhia, não passas de minha consciência arrependida. Mas seja lá quem – alguém – desabrigou-me das minhas lâmpadas, e agora tudo é uma grande escuridão mental. Não tenho referenciais de limites e me confundo com o todo que eu não sou. Mas do centro da sala ecoa minha sentença: Aguarda, o mundo já volta.

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