13 de julho de 2012

Do outro lado do horizonte, depois daqueles morros verdes


É noite e estou em meu quarto, sozinho. É noite, e o medo me distrai. É noite sozinha em meu quarto, é noite neste meu quarto sozinho. É noite.


Era noite naquela época, naqueles dias frios, quando eu apertava a mão contra o parapeito da janela azul. Era noite naqueles dias de inverno, quando tudo era incerto. Vivíamos em uma era de desertificação sentimental. Era eu mais Eu do que agora? O que fez? Para onde foram levados os sonhos juvenis?


Parte I

“Eu sei que estou andando aqui mais de uma vez. Parece que o sol já se pôs assim, não parece, Alfredo? Eu lembro de ter calcado essa pedra no peito do pé, era assim, exatamente assim... Não faz muito sentido...”

O que sabemos do tempo, ou do universo, ou o que sabemos de Deus, ou de deus, acho que é muito pouco ainda – ele falava, sozinho, enquanto percorria o dedo na superfície verde das folhas. Alfredo estava muito mais distante – de si e dele – durante essas indagações, e nenhuma resposta seria ouvida. Sua atenção foi desviada para umas borbulhas formadas na superfície estagnada daquela poça de água barrenta no meio do caminho. Tão simples quanto uma bolha, tão indefinido quanto o que chegava aos seus olhos quando a noite caía. Aquele tanto de pontos luminosos.


Parte II

De certa forma, o que era ontem permanece hoje. As dúvidas, no fundo, são as mesmas, embora se apresentem em nova roupagem. Ele permanece no mesmo ponto, observando as matas que se delineiam no horizonte longínquo. Os anos passaram mas as respostas não vieram. Virão um dia?

De onde estão seus pés agora, várias linhas saem e se esticam em rumos diferentes. Alguns são retos, outros tortuosos. Mas todos vão para lugares não abarcados pela visão. O fim de alguns é imprevisível porque há uma curva no caminho, o de outros porque se embrenham em construções diferenciadas. O fato é que ele sabe que vai ter de escolher algum dos caminhos. Contudo, quanto mais se anda, mais distante um se torna do outro. E se, depois da curva, depois da porta, depois da mata embrenhada, não se chegar aonde era esperado?


Parte III

[resultado desconhecido: o horizonte, por mais que se tente alcançá-lo, sempre estará a mais um passo.]





Nenhum comentário: