17 de julho de 2012

Pai morto


"Em outra percepção, o tempo não é, nunca foi. Por um fio a outro, todos estamos sempre aqui, agora."



Fantástico ambiente colorido, plumas rosas e capim dourado. Ele era nosso super-herói. O carro multi veloz que risca a paisagem e nos empurra para frente, nós nos vemos no tubo de luz, no canhão de eletromagnetismo, na chapa verde do hospital. Perfeitos seres humanos.

Lágrimas geladas e face ainda gordurosa, palidez que se espalha pelo corpo jeitoso. Era jeitoso com as mulheres que passaram na sua vida, era culto para ensinar-nos o que fazer diante daquelas imensas prateleiras do supermercado. Fantástico ambiente colorido, embalagens azuis e rótulos plastificados. Carrinhos que torcem a roda e mudam nossa direção.

Pisantes colados no asfalto, ritmo de cortejo, ruas ocupadas, flores brancas e arranjos coloridos. São todos seres humanos. Também formigas e as baratas saíram dos bueiros e cortam nosso caminho, e, ali, a igreja, de porta fechada para nós. E ele deu sua face para que examinassem, e a viraram para o chão. Segredos, vergonha e copos de aspirina com conhaque. Cabelo desgrenhado às seis da manhã, o anel da mão esquerda que caiu ralo abaixo e nunca mais foi encontrado. Ele, de fato, não queria encontrá-lo jamais. Era nosso super-herói.

Sofá que nos traga como a um cigarro e, depois, expele-nos. Agora, somos como fumaça. Espalhamo-nos contra o vidro, nos dissolvemos no chão. Nas paredes, seus antigos quadros de Pink Floyd brancos, pretos e com raios arcoirizados transpassantes. O homem com fogo na cabeça. Formatos divergentes como nós, cada um espalhado por um canto, por uma vida. A vida gerada de um só. E agora, quando a dele se foi, estamos nós reunidos de novo. Com lágrimas nas mãos e glotes fechadas, paletós pretos e sapatos feios. Como seres humanos que somos.

E agora, para onde vamos?



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