7 de janeiro de 2013

Deixa estar ou deixa mudar, tanto faz


"Não me sinto bem."



Vejo preto, tudo escuro. Vejo e não quero ver. Vejo e não tenho ânimos pra ver. Um angústia me consome, há tanto me carcome que não sou mais eu, sou ela e eu, sou mistura de neblina nos olhos e dizeres mecanizados. Isolada mente, resguardada da brutalidade da frieza ou desativada pela desnutrição de pulsares vívidos. Sou eu, de um jeito que não sou, que não quero ser.

Respeito meus limites e evito mostrar a penumbra àqueles por quem tenho apreço e profunda admiração. Estou mau, cheio de desejos que corto, um a um, com uma tesoura indigna. Como que por profundo prazer masoquista, picoto minha imaginação e restrinjo meus sonhos; esse não sou eu, embora seja ainda.

Deixa estar ou deixa mudar, tanto faz, tanto fez. Assim sigo, sem forças ou vontades nem pra bater a poeira das botas. Arrasto e faço rastro, por pura inanição. Olho sem expressão, passo os dedos na barba, consumo-me, comunico-me de verdade apenas com o cigarro e as xícaras, amigas minhas. Pseudo-lunático estou me fazendo, dia após noite. As manhãs não são tormento e não trazem alento. Nada. São manhãs, no sentido técnico perfeito. Nova virada da Terra, mecânico efeito que nos faz estar novamente expostos à luz.

Há no centro de um tornado uma presença, sentada, de olhos distantes, contemplativos. Sou eu, de joelhos nos braços, mãos cruzadas, pés no barro e calça dins de barras levemente desfiadas. Contemplo o tornado que eu mesmo criei ou, de certa forma, deixei formar-se em torno. Virá um salto, uma cambalhota, um grito, um giro?