7 de maio de 2013

Não quero mais amores


(Dedicado a três amigos)


Não quero mais amores. Amores, seus lamentos, suas dores. A paixão arrebatadora, o início, o meio sôfrego, mole, morno, e o final libertador tanto quanto aterrador. Não os quero mais, nada. Não quero ter de pensar em ninguém, não quero andar em meios-fios de alguma coisa. Não quero mais nada. Não quero mais soluços, não quero lágrimas e nem promessas. Estas muito menos.

Não quero corpos. Minto. Quero-os. Um de cada vez, talvez até dois ou mais. Mas não os idealizo, não os quero esculpidos. Quero o corpo de qualquer um, quero uma carne qualquer, natural. Que ao menos este querer e o objeto querido sejam naturais. De resto, nada mais espero. Não quero esperanças de um amor, não quero idealizar cabanas conjugais em campos verdejantes. Talvez eu queira me esfolar no mato, chafurdar no lamaçal, sujar-me de sexo, sentir o odor nauseante de uma pós-noite. Mas é só.

Estou cheio. Cheio de rancores, de dores nos pés (ah, meu Deus, só pode ser o frio, o frio de junho!), cheio de mediocridade. Estou cheio de fumaça nos pulmões também, mas desta não reclamo, ainda que um dia possa ela me levar à tumba. Problema meu. E dela. Estou repleto, estou até a tampa. E o pior? O pior é que não consigo me despejar em lágrimas, este abarrotamento não se esvai pelos olhos, nem por possíveis gritos. A minha única esperança é escrever. Redigir, revisar, ler, apreciar, desgostar e, por fim, concordar. Isto, e só, distrai-me ou, de alguma forma, recompensa-me.

O tempo corre, ainda que não o possamos ver sempre. Um ano mais, novas rugas, menos fios de cabelo, promessas a serem pagas. Sabe o que diminui minha aflição? É pensar que este ano, talvez, terei modos de cumprir a metade das minhas [promessas]. Uma porção de amigos a visitar, de lugares a conhecer, de livros a serem lidos e resenhados, mentalmente ao menos. Tenho de seguir vibrante, cuspindo flores e semeando pelo caminho. Mas não é fácil. Ainda quero meus corpos. Mesmo tendo consciência de meu fracasso como objeto do desejo. Ainda assim.

Tenho frio e é péssimo tê-lo. Quero meu rio branco, além dos corpos e das flores e da Gal. Ainda que eu não possa tê-lo como morada. Que seja ele, então, meu amante apenas, e que eu possa visitá-lo esporadicamente, sorrateiramente, com a inocência pueril da infância. Quero também que chegue uma tal manhã, e esta eu sei bem defini-la, e que com ela eu tenha esperanças renovadas de que batalhar é, por fim, compensador. Quero, sobretudo, meus sorrisos mais espontâneos de volta. E, por favor, que seja logo.


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