9 de fevereiro de 2008

Angústia do homem de chapéu

Na tarde normal de Fevereiro ele volta para casa. Sacola na mão e chapéu na cabeça. Chapéu? É, parece um tanto antiquado para os outros transeuntes. Mas é, é chapéu sim...
O olhar constantemente voltado para baixo e a expressão fechada que encara a face da calçada. Ele queria muito estar com um cigarro na boca agora para tentar asfixiar toda aquela dor que sente no peito; que só ele sabe (e será que ele realmente sabe?) que por dentro há um clamor desesperado, e aqueles olhos estão quase sendo quebrados por tantas batidas. As batidas que sua consciência, inconsciente, faz para tentar quebrar aquela prisão, para tentar gritar e ser ouvida, expor aquele desespero.
Provavelmente ninguém reparou que o homem de sacola na mão e chapéu estava com uma lágrima iminente para cair dos olhos. (O cair da lágrima seria a soltura daquela angústia, mas bem se sabe que se a primeira caísse, se realmente os murros sem rumos da inconsciência (era consciente?) arrebentassem a barreira, não seria apenas uma lágrima que aqueles olhos deixariam escapar.)
Começou a chover. O homem aperta os seus passos e olha cuidadosamente para a rua, mapeando os buracos e fugindo habilmente (mas não tanto assim) das poças. A chuva engrossa e a água escorre da aba do seu chapéu. Um caminhão entra na frente do meu foco de visão e quando sai já não mais encontro o angustiado transeunte. Deve ter entrado no mercado.

Nenhum comentário: