11 de setembro de 2008

Caminhada

Eu já viajei por estradas indefinidas
Cortes e recortes mentais

Eu já entrei em buracos negros
Negros como as noites de solidão
Escalei suas paredes sujas e úmidas, escorreguei
Caí
E me levantei

Eu já percorri caminhos longos, cheios de espinhos
Já andei por vias tortuosas
Perdi-me no mato, acompanhei o andar (deles)
no mais absoluto silêncio, temendo por despertar (quem?)
(Você?) (ou eles?)


Nas mais frias madrugadas deixei minha casa
Rumo aos destinos que você me apresentava
Esfriei as mãos no freio congelado
Pelos corações frios escondidos dentro dos corpos quentes

Já marchei rumo ao infinito
Ao indefinido infinito
E fui muito feliz
Caminhando retilineamente, com passos contados e ritmados
Segui a vida sua

Eu já ouvi o que não devia
E prossegui fazendo o que era errado
(Embora o Certo seja uma questão contextual)

Nas águas espumantes da represa mergulhei
Sem pensar e sem olhar para trás
À noite, sabe, a gente não consegue distinguir muito bem as coisas
Pedaços de madeira jogados e abandonados
Confundem-se com o brilho da lua que parecia tão perto
Tão fácil

Eu já pensei em me matar
Para chamar a sua atenção
Mas morto, não saberia sua reação

Toda minha vida foi uma busca incessante de como te manter vivo e presente

E eu criei lembranças
E eu forcei vínculos
E eu arranjei uma maneira de tornar as pessoas dependentes de mim

E eu arranjei uma maneira de não ser esquecido

E por tudo isso eu pago, pois aprendi a não esquecer

A cada nova manhã, me sinto mais distante
O sol bate na minha testa, esquenta meus olhos
Protegidos (?) por debaixo dos óculos escuros

A cada novo dia, estou mais distante
Nessa estrada que percorro
Olho muitas vezes para trás
Na esperança de ver sua sombra

Há outras sombras, que eu desprezo

Não estou só
Mas sigo solitário


E espero que minha falta seja sentida
E que o sofrimento escorra pelas suas paredes
Te afogando em um poço de remorso doloroso

E eu não sou mau
E eu aproveito todas as chances que tenho
De ser bom

Nesse asfalto frio
Nessa noite sem lua
Prossigo a marcha
Por dentre a estrada de eucaliptos
Sinto o calafrio do medo
(Que medo?)

Toda minha vida foi uma busca incessante de como lhe fazer permanecer e permear o meu futuro
E nessa busca
Deixei passar o presente

Sinto o calafrio do medo
O vento balança os eucaliptos
E eu sinto na espinha o tremor dos pneus das bicicletas
Quando cruzavam sem receio a estrada sem luz

E a noite toma conta

Eu deixei o vinil tocar mais uma vez
Para tentar entender a diferença
Entre Nós e Eles
A mágica que havia e nos fazia ligar
Um ponto ao outro
E agora não sei onde (você) está mais
Se está entre Eles
E se sou só Eu agora

Há um novo sentido em fazer café e sentar na rede a contemplar o horizonte por detrás das cercas de madeira
E é a ausência de sentido
De porquê

Por essa estrada de quedas
E de altos e baixos
Continuo minha caminhada
Porque é impossível parar

E a cada vez que o sol nasce
Traz uma nova experiência
E vou assimilando novas formas de vida
E vou aprendendo as grandes lições

Mas continuo olhando para trás

E de novo

Eu já voei pelas noites afora
Seguindo-te de perto
Com o olhar
Já cortei meus pensamentos
Com o vento que transpassava a mente
Já recortei e colei sua vida
Inteira
Manipulei
Omiti
E sutilmente mudei o rumo da história

Mas ela se consumou
E chegou ao final

E todas as manhãs
Enquanto preparo meu café solitário
Inconscientemente tento te acordar

Ainda não consegui (me) acordar
E por isso (ainda) penso
Que tudo isso é só
Um sonho ruim

Um comentário:

Unknown disse...

Se fosse um escritor famoso...compraria o livro, não pq era somente "famoso" mas pq ele era bom no que fazia e nada me faria mais feliz do que sentir os olhos se enchendo novamente(verdade)!

=]