28 de novembro de 2010

Desordenado, eu

Estou andando no corredor escuro. Minha visão é limitada, quase nula. Nos braços, as fissuras dos passos dados em direções incorretas, nas pontas dos dedos os cortes pela excessiva exerção do tato. Os ouvidos escutam vozes distantes, embaralhadas na confusão do desespero. As paredes sinuosas entortam e se retorcem assim como a esperança. Há falhas no processo: há passos a frente, há retrocesso. Pouco a pouco saio do lugar, mas cada modificação me reconduz a uma nova configuração de ambiente e é difícil prever, é difícil entender. As pedras dos limites estão úmidas como antes a libido, mas o ar é seco. Meu isqueiro não funciona, talvez porque não tenha mais fluido, talvez porque eu não queira ver a luz. Talvez porque eu não queira aceitar me conscientizar de onde desembarquei afinal, desde a fuga naquela quinta-feira fria. A escuridão me protege de conhecer o que me tornei depois de toda a dor? As mãos retalhadas não conseguem me dizer a textura da face, mal sinto os cabelos. Desordenada passagem do tempo, se a há. Ritmados e constantes, apenas os muitos pulsares do meu coração, da mente febril, das vozes que ouço do outro lado de cada fronteira. Pouco a pouco saio do lugar, mas tenho a leve impressão de andar em círculos...

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