10 de novembro de 2010

O fim da canção...

Por detrás das sombras, ecoando dentro de minha cabeça, os passos que foram dados na direção incorreta. Almejando o sucesso nunca alcançado, os pesadelos, senhores, retornam. Alguns imersos em torrentes de dor, alguns tentando se aproximar a um ideal de sublimação. Frágeis...

A torneira foi aberta.

Há uma grande mata, escondida pelos devaneios de los mayores, pelos senhores da reprovação. Presos entre seus galhos, dependurados como as folhas, os temores banais e os insólitos, as realizações incompreendidas, a glória doméstica.

Arrasada, mais arrasada a cada tempo, a consciência do orgulho, o orgulho, estão todos em chamas. O dedo apontado faz obscurecer, a palavra dirigida, diminuir. E tudo se encolhe. Os méritos estão a perigo. Por enquanto, a grande tormenta os observa de cima. Está esperando sua deixa...

A torneira foi aberta. A mão deitou-se sobre o registro, as gotas jorraram, vigorosas, um exército incontrolável, sedento da sede que não podia ser saciada. Jorrou também o sangue do outro, a bem feitoria não posta na balança. Os atos deixaram de valer, os olhos foram fechados. Nunca mais as boas ações, nunca mais a tentativa do êxito. E a tormenta desaba, e a mata escorre, e as sombras se dissolvem no grande nada por demais escuro, demais vazio.

Há uma singela canção, que longe toca enquanto todo o mais vai sendo engolido. Como o fim do disco, chega o fim do por do sol, e a escuridão devora. A torneira aberta, também ela é absorvida pela água sem direção, foi traída pelos soldados a quem libertou, e nada mais é o lugar que devia ser.

Longe, a vitrola sinaliza, de dentro da cabana de madeira envelhecida, o último fechamento das cortinas.



Um comentário:

Mairex disse...

Ah, Tiago! Lindo também.
Você também sempre escolhe uma imagem parecidíssima com o texto.
Um beijo.