17 de junho de 2011

Manual simplificado do amor

São uma da manhã e minha xícara está cheia. Minha vida está vazia? Devo esquecer algumas pessoas do caminho?

A receita não está pronta. Alguém esqueceu de anotar a quantidade de farinha. E agora? Como vou preencher a lacuna? Parece-me que alguém riscou uma anotação importante aqui, o que estava escrito por debaixo? Como vou completar o sentido?

São uma da manhã e meu cigarro está inteiro. Estou acabado, então? Devo reler algumas mensagens no celular?

Latejante é a saudade de quem está distante. Será que aguardo em vão? Haverá outro a esperá-lo no saguão? Latente são sentimentos recentemente expostos. Dilemas e corrupções, será que haverá recompensa para minha espera[nça]?

É que nesse tempo todo eu não aprendi a depositar confiança em um corpo apenas. É que, pelos caminhos da vida, eu entendi que os outros iriam me puxar para baixo. Por isso que eu ando tão distante do chão, por isso eu tenho o meu próprio pique. Aqui, só eu me escondo. Fiz certo?

É que, de repente, na iminência da mudança, apareceu-me esse dilema. Fruto da corrupção. Fruto do encontro desprevenido, da literatura dos olhos, da respiração mútua e desconfiada. Ainda sim, da correspondência confiante. E agora você está debaixo do meu travesseiro. Por cima da minha cama.

O ritmo me anima, eu não consigo pregar os olhos. Fiz o certo? E agora, o que virá no dia de amanhã? Parece-me que acordo e sua imagem ainda está aqui. Sim, ela não quer se desprender e eu não quero soltá-la. É uma querência mútua. É uma querência mútua? Essa vibração em uníssono. Por um momento, somos apenas de nós.

Eu acho que posso dizer – estou feliz. Eu acho que é possível avistar que, embora o futuro seja embaçado, a satisfação é concreta. Não, não deveremos medir o tempo pelo relógio. Vou rasgar o calendário. Não fará sentido contar os dias enquanto persistir a atenção. Enquanto perdurar o beijo, os ponteiros estarão pausados.


2 comentários:

Jaqueline disse...

gostei muito, tenho a impressão de sentir isso também. uma certeza e ao mesmo tempo um desconforto com o futuro, o desconhecido. e essas perguntas, eu também me faço, são os dilemas da vida, acho que dá uma novela isso...

Anônimo disse...

Que que tá pegando, rapah?
Vai lamentar por ter que deixar coisas para trás com a mudança e a mudança que ela traz?
Saudades,

Mairon.