28 de fevereiro de 2012

Xícara solitária no meio do terreiro

"Aquele que me vê nem de longe imagina. Debaixo da face serena, um turbilhão de emoções gritam e se desesperam."


Xícara solitária, por que estais assim, tão calada? Não enxerga, daí, meu pranto que escorre acalorando a face desolada?

Xícara solitária, antes transbordante e passante [de mãos quentes a bocas conversantes], por que estais aí, tão reticente?

Xícara solitária, tão calada e absorta, a quem eu não ousaria incomodar senão por esse simples desejo de levar alguma palavra de consolo, não vê que abano as mãos a sua frente?

Xícara solitária, de cor esverdeada e aparência delicada, por que assim, deixada? Por que assim, esquecida?

Xícara solitária que não dialoga, embora esteja eu aqui em sua frente a clamar atenção ou prestes a fazer uma prece, a pedir-lhe proteção. Por que assim, tão desiludida?

Em um pouco de mim há você, embora eu não saiba se também a mim você deseja. Assim, dessa forma, fico aqui, a pairar sobre a caixa d'água, a te olhar no terreiro, a te querer tão bem. Dessa forma, assim, fico a contemplar, ainda que minha imagem não se reflita em suas pupilas envidraçadas.

Por que assim, tão destituída de esperança?