3 de dezembro de 2012

Da minha sacada de arames farpados, escrevo



Não quero pulmões limpos.
Não quero dias enfadonhos.
Não quero cuecas de marca.
Não quero capitalismo selvagem.
Não quero dinheiro saltando dos bolsos.
Não quero religiosos fundamentalistas.
Não quero uma sociedade organizada por heterossexuais machistas.
Não quero carros potentes.
Não quero ostentação, tampouco exibicionismo.
Não quero demostrações de poder sobre os mais fracos.
Não quero mulheres tratadas como mercadorias.
Não quero talheres de prata.
Não quero luxo.
Não quero caviar na minha mesa.
Não quero estratificação social.
Não quero caminhonetes carregadas de alto falantes.
Não quero dinheiro por dinheiro.
Não quero uma vida saudável e opaca.
Não quero passar despercebido.
Não quero ofuscar meus semelhantes.
Não quero classe A.
Não quero as universidades públicas ocupadas pela elite.
Não quero elite.
Não quero uma juventude derrubada por drogas.
Não quero uma sociedade opressiva e desigual que, na desesperança que traz, é a causa maior da busca por uma vida entorpecida.
Não quero pessoas medindo umas às outras por suas posses e suas compras.
Não quero viver sem Gal.
Não quero estar em meio a sorrisos alienados.
Não quero capitalismo.
Não quero uma vida sem fumaça.
Não quero desperdiçar mais um dia com heterossexuais de reprodução, bem com homossexuais de futilidade inútil.
Não quero futilidade.
Não quero passar nem mesmo uma semana longe da literatura brasileira.
Não quero acordar sem café.
Não quero.