2 de novembro de 2011

Jogados

“Nós deixamos as coisas todas jogadas e voltamo-nos nossas costas. Nós nos deixamos todos jogados e saímos com as coisas nas costas.”


Calada cada palavra sua despejada no meu tronco amorenado de quem um dia foi todo amor. Que de dor eu suporto mais que poderia, e não desabo sob esta mortalha de carne agora pelo único motivo do orgulho sadio que ainda me move. Que se sabe, o único sadio que se move, ainda, dentro desse diálogo monologado.

Senti eu mais a dor do punhal cravado, ou fui quem puxou seu tapete em frente à multidão? Que se agora caíste com a boca nos degraus não ponha em mim a culpa do mau olhado, que, no caminhar desalinhado deste gostar errático, no máximo fora mal interessado. Porque da vida em palácios que me foi prometida houve o ponto em que nosso entendimento estivesse reduzido a um porão que abria para fora, tão somente. Não posso negar que te amei. Desejei intensamente cada sorriso colhido em manhãs de feriados e cafés na cama.



Nós deixamos as coisas todas jogadas e fechamos a porta. Cada um para si, como se o todo em comunhão fosse, antes de tudo, um delírio de poucos segundos. Momento ido, promessa quebrada. Eu queria chamar a toda essa legião ingratidão, mas isso essa não era, vez que, a minha maneira, também tenho certa parcela de culpa. Parcela advinda de uma compra feita a dois.

É como eu me sinto agora – mentira, ninguém sabe! Porque nenhum outro, afora alguns poucos judiados, poderiam suportar com meu vigor estas tantas chibatadas que meu lombo recebe advindas da fissão dos sonhos construídos com tanto carinho. Por que não nos avisaram de que tudo ia implodir-se depois?

Alguém sonhou em demasiado na montagem deste mosaico que agora desmorona. Não me venha com a estória “vamos medir por lágrimas ou pelos desafetos verbalizados” para saber quem saiu perdendo, quando está estampado em ambas a faces que fui eu. Culpado por acreditar em ideias que em mim foram implantadas, porque estava quieto no meu canto, assistindo minha janela, deitado no meu travesseiro.

Porque, antes de você chegar, essa casa era em pé. Que eu não posso agora implantar meu próprio coma particular e me enclausurar eu sei, e, assim, não é um castigo demasiado jocoso que eu tenha de deslocar o que antes dessa forma já o era, de maneira a me sentir no lar do meu peito novamente? Nosso movimento é identicamente oposto do mesmo eixo. Mas alguém está andando mais rápido.

Nós nos voltamos as costas e deixamos as coisas jogadas pelas portas todas. Porque por nenhuma das entradas possíveis seremos bem-vindos um para o outro novamente.

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