9 de setembro de 2013

Capítulo 21-24: do amor que não se esgota

Esta é uma declaração de amor que envolve cigarros, escuridão, ar fresco, folhagens molhadas e, quem sabe, uma correspondência, embora eu não acredite nela.

Como não te vou entregar pessoalmente isto, é capaz que nunca você a veja. Como não vou bradá-la por praças e em saraus literários (ai!, pretensão minha, ai!), é capaz que dela você jamais tome conhecimento. Não me importo. Joguei pelo universo as sementes deste amor tão profundo e tão impossível, espalhei energias pelos quatro cantos, sou a irradiação do amor.

Como não te vou ver dormir, como não te vou tocar a face enquanto ressona, provavelmente você não poderá sentir o carinho imenso que tenho aqui, guardado em mim. Este carinho que floresce a cada dia porque dele cuido muito bem, e que jamais fermenta porque entre nós não há um risco sequer de desentendimentos. Esta compaixão que, eu sei, é mútua, ainda que eu não possa dela provar agora. Não me importo.

Como não estou presente em suas realizações mais recentes, não te posso abrir um sorriso e esperar que venha tudo ao meu ouvido, e nem te posso contemplar a face rosada enquanto conta, com empolgação, suas descobertas e seus êxitos. Mas deles sei, deles todos, porque entre mim e ti há uma conexão cósmica, uma força poderosa e que, sendo universal, não é impedida pela distância, seja ela física ou de pensamentos. E sei que, ainda que eu não pense em ti todos os dias, sua imagem não se distancia de meu Eu. E nem se distancia do seu a minha. Eu sei disso, e por isso não me importo.

Como em seus acordares diários, às vezes difíceis, às vezes esplêndidos, não te estou acompanhando, não posso provar do beijo seu, que tem sabor de mel e é forte como conhaque. Mas embora eu esteja longe da sua companhia agora, eu guardo no meu íntimo este sabor adocicado do amor que já tive e ainda tenho de ti. E por isso não me importo. Eu tenho em mim o melhor de ti, e como um bom amante e o apaixonado incorrigível que sou, você sabe, jamais deixo que seja subjugada essa lembrança.

Como na alta madrugada não te posso visitar, subindo sorrateiramente as escadas do apartamento seu, acabo por fumar sozinho o último cigarro da noite ao invés de trocar com você suspiros eclipsados por luz e fumaça. E não te posso, portanto, fazer comparações com as coisas que vivi e as que viveremos ainda. Mas não me importo, com tudo isso e apesar de tudo, não me importo. Porque ainda que eu não seja, por nem um dia sequer, correspondido, vivo este amor em mim. Este amor que é maior que os troncos das árvores em que já escoramos as costas em outras tardes, que é mais gostoso que as risadas que já demos ao telefone. E, quem sabe, as forças cósmicas não te trarão um dia à minha porta, num belo sábado de manhã?



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