14 de agosto de 2010

Não ouço, não percebo, não sinto

Não há nada no mundo que não me faça lembrar a perdição. Imagens vazias, espaços com vazios mal alocados.

Oh, por favor, minha gente
Olhem para um céu mais cinza
Estamos sobre suas cabeças
Estamos rezando por vocês

Nas mesas de madeira há cortes abertos no verniz, a coisa está se desmanchando
(Ninguém percebe)
Nos escritórios dos arranha-céus pessoas que se deslocam sistematicamente, mas elas não sabem aonde estão indo (aonde estão chegando?)

(Ninguém se preocupa)

Correntes, pesadas correntes
Prendendo minhas mãos a esse modo de viver, a esse modo de dizer
Eu gostaria de falar o que realmente penso
Mas os ouvidos dessensibilizados não conseguem ouvir
Ouvem o chamado
Ouvem a ordem
Ouvem o que é certo ou errado fazer
Mas meus rabiscos de felicitações no caderninho da cozinha passam em silêncio

Oh, por favor, minha gente
Olhem para um concreto mais escuro
Estamos sobre nossas cabeças
Segurando um pêndulo extraordinariamente pesaroso

Mas com suas ht-rotinas atando-os a esse círculo vicioso
Ninguém se libera
Ninguém nos ama
Ninguém se importa
Ninguém vê
Ninguém ouve
E nos dissipamos no cotidiano
Fazendo história com horários agendados e compromissos fixados e inadiáveis

Imagens vazias, não porque o são devidamente. Imagens vazias pois seus significados perderam a batalha em meio à plasticidade das eras...