1 de agosto de 2010

Uma prece à vida-amor

I - Fragmentos recolhidos

Depois de um certo tempo, as pólvoras umedecidas ainda estão a ponto de bala. Molhadas estão as pestanas, após tanto tempo adormecidas.

Uma a uma, enfileiradas e disciplinadas, as ordens de sucessivas sinapses estão aguardando no formulário, que ainda terá de ser revisado. Sou o mesmo de antigamente? Talvez me falte óleo nas juntas, um pouco mais de clareza. Quero um banho.

Estou cansado, cansado e com mal estar de estar não lá muito perfumado. Deve ser esse calor, deve ser essa falta de pudor. Talvez, vá, talvez. Estou com vontade de por um cigarro entres os dedos, porque é que eu fui inventar essa de não fumar mais? Ah, a pele. Os cabelos, o perfume. O bolso, meu Deus, o bolso! O bolso agradece. Talvez até mais que os pulmões.

Voltemos toda a atenção para o café. Até escolhi duas imagens interessantes pra inscrever aqui.

O banco da praça está aguardando por uma nádega que o esquente, numa noite fria e pouco convidativa a suspiros de amor. A filha mal criada não pensa nos pais quando está nos braços do homem que a despejará no outro dia. Ele não sabe nem mesmo seu nome. É, é a primeira estrela que vejo na noite. Meu pedido já foi efetuado.

Enquanto isso, Sheriff fareja formigas no quintal. Ele não sabe rezar, mas ainda sim Deus atende às suas preces. E lágrimas já não mais saem de seus olhos tristonhos e rastejantes.







II - Uma prece à vida-amor

Eu preciso de um pouco mais desse seu elixir. Eu preciso me sentir mais vivo, Vivo! Como se me escorresse pela pele afora, como se me banhasse em um lazer sagrado. E profano.

É a cada movimento, mais e mais, sentir o que você sente. A cada gesto, um olhar mais profundo, que me afunda. Que penetra na alma com o vigor de um suspiro. De uma lança perfurante, é o sangue do lado, é o olhar fulminante.

Misteriosamente, a cada minuto torna-te mais forte, e esse toque marca como se de fogo, como se de fogo queima internamente os tecidos, acende uma explosão contida, os pelos estão eriçados. Há uma fricção em tudo isso, há uma sentimentalização do antes puramente mecânico. Mentira, contudo, porque mecânico somente nunca o fora.

Eu preciso sentir esse elixir. De onde vem a fonte da vida, de onde jorra a bebida sagrada, o símbolo do pacto, a materialização de um desejo expresso entre olhares e toques, entre beijos e mordidas. É um jogo sujo, é uma perseguição perversa. Mas eu sou bom, e minhas intenções são puras.

E antes que se possa dizer a palavra, estará tudo (des)colocado em seus devidos lugares, antes que se possa raciocinar o que é indescritível terá sido proclamado, e minhas mãos e bocas poderão provar, por indícios irrefutáveis, que a juventude percorre, ao menos até amanhã e depois do depois do amanhã, e ainda mais um pouco talvez, as minhas veias vívidas de sangue.

Amém.

Um comentário:

Felipe disse...

É Tiago, você está de parabéns sutil, porém objetivo e claro no que é o amor visto de um certo ponto de vista, embora você falou mais da vida que do amor propriamente dito, um beijo!