3 de outubro de 2011

Sensações em fragmentos

“Todos os beijos que puder dar. Neste estado de êxtase profundo, todos os braços que puder acolher, em abraços. No silêncio em que os corações se encontram, toda a luz que puder emanar, em acalentos. Todos os beijos que puder dar, todos os festejos.”


Ela me beija com força, me aperta com carinho, despede-se de mim. Não sei, não sei, algo está vindo e não vai haver volta por um tempo. Sinto os ares mudarem, mas não me dizem qual será a nova direção de tudo.

A página virada violentamente me causa imersões profundas no bule de chá. Por fora estamos todos escaldados, mas tudo ainda nem começou. Parece que vim de muito longe para este evento, mas não encontro a porta de entrada do show. Alguém está com minha entrada antecipada?

Ele tem um nome complicado, não decorei à primeira vez. O cabelo ajeitado sem estilo me chamou atenção. Não percebe que estou em sua mira, atrás da pilastra marmoreada. Mas eu tenho seu telefone, uma foto do primeiro namorado de sua mãe e sei quantas vezes ele dormiu com outros rapazes na última semana. Sim, ele é um deleite.

(Todos os beijos que eu puder dar, em abraços improvisados. Toda a emoção dissipada, agora reaproveitada por outros corações, em outras sensações. Rápido, um tiro, apaixonando e se desapaixonando, seguindo o ritmo demarcado. Todos os amassos, todos os banheiros, os lugares emporcalhados do amor.)

Ela me pega de virado, aperta meus bolsos, ela quer alguma coisa que não poderei dar. Eu estou esperto com os próximos capítulos, quem saberá o desdobrar deste tormento? Minhas mãos calmas se desafeiçoam com as suas, e nessa batalha eu já sei que perdi toda a guerra.

Seu rosto definido, seu corpo torneado por debaixo das malhas pretas e justas, é debaixo dele onde eu gostaria de ficar agora? De longe sou atingido, não revido, não reajo, ele não sabe onde estou, ainda. Poderá ficar tarde para sair e aí, bem, e aí quem vai me levar? Não preciso de um amor, mas por uma noite descartável eu me daria por inteiro.

O movimento lento, o compasso das beberagens, o vestido se arrastando pelo chão, onde caíram meus cigarros?, eu cambaleio mas ainda acerto o alvo. É questão de tempo e alguma boa vontade divina. Meus objetivos não podem ser deixados de lado. E amassa-se o copo plástico.

(Todos os corpos que puder beijar, todas as partes. Todas as bocas que imaginar, todas em meus lábios. Onde esse sentimento vai me trazer, para quem eu vou dar, onde dormiremos na noite em que desabar sobre mim o peso das responsabilidades?)


Nenhum comentário: