28 de outubro de 2011

Todos os amanheceres

Parte Um - Oração antes de dormir


Velha ratazana que urge do sótão, deixe-me em paz apenas amanhã. Vá rezar em outros cantos.

Sol nascente do poente, aqueça-me do avesso para que mantenha-se acesa aqui ao menos uma chama. Esse amor não pode acabar.

Espíritos que me rodeiam, dancem a minha volta uma ciranda alegre, quero espantar os maus olhados.

Minha mala azul sempre cheia, prometo que vou esvaziar-te depois da próxima viagem. Prometo que vou arrumar toda essa bagunça, tirar o pó dos móveis, ordenar os papéis. Quando acordar o primeiro sol.

Vela que encera de negro minha mesa de madeira tratada, queime minhas ideias imprestáveis para que dessa forma só lampejem na galáxia particular do teto deste quarto os projetos fartos de futuro.



Parte Dois - Todos os amanheceres


Manhã de sol clareia meu rosto. Hoje eles esqueceram de dormir. E o sono veio me visitar mais cedo. Eu estou inebriado. Calor, quente, suado. Com gosto de gostoso.

Por fora destes muros de pedra, meus ouvidos ouviram um som diferente, um entoar de encanto. Não preciso de outro quase caso de amor. Eu sou invencível, incrível, incrível. Eu creio. Na minha sombra que me acompanha, nos meus passos de miss meio-fio. Eles também acreditam. Não vamos morrer, de certa forma. Nunca.

Eu tenho meus méritos. Eles falam por mim, e eu me calo. A imagem agrada, meu gosto é bom, eu não tenho que me preocupar com as havaianas cor de preto e branco. São passos que me antecedem. Na soleira, os tapetes as cumprimentam, e então estamos muito bem.

Cafés da manhã, muitos. Em dias de domingo, nas terças e outras tantas feiras também. Servidos com requinte de paixão, sem sair da toada do bem querer continuado. Eu vou ser bom amante. Pra ti, apenas pra ti.

Não vamos falar de amor. Que é coisa imaterial que ninguém não consegue nunca ver. Vamos falar de eu e de você, de como eu te quero bem, de como eu gosto de ouvir suas vocalizações por meio do meu telefone vermelho. O romance perseverante, vamos falar de quando vamos nos ver nos meses da vida.

Manhã de sol clareia meu rosto, noite escura me protege. Por cima um capuz que me guarda, uma blusa que te esquenta. Hoje o sono me visitou mais cedo, e eu adormeci com odores de nome tão familiar a mim. Não que eu vá me preocupar agora, mas vai ser bom quando tudo isso eu puder falar-te enquanto meus dedos escorridos passeiam por tua nuca.

Eu tenho meus segredos. Quando bem querem, pululam dos meus bolsos e saem aprontando pelas calçadas em que já passei. Eles resguardam meus sucessos e enaltecem meus fracassos, para que cada lição aprendida se mantenha atual. Incrível, incrível. Mas tudo o que podem fazer é me ajudar a ter mais cuidado com o tato, com as disparadas da linguagem. Eu tenho meus segredos, e eles querem logo conhecer os teus.

Não vamos morrer nunca...


2 comentários:

Leninha disse...

Tiago sua capacidade em expressar nossos sentimentos secretos e desnudá-los de forma tão sutil é simplesmenteFascinante.....Parabéns!!

Leninha

madalena disse...

adorei, tiago! saudades suas!