16 de janeiro de 2009

Amigos, amigos

1) Lembranças dos projetos para o futuro

Na imensa noite escura
No frescor do campo
Nós passamos o tempo lá fora

Agora ficou muito confuso, é difícil

Uma época tão distante, nada externo às nossas convicções
Nos atingia

Só eu e você
Ninguém mais interferia

Eu estava em paz

Eu sonhei com esse tempo
Para mim e para você
Era um tempo feliz

E hoje, as pressões incidem
E as preocupações existem

Perdidos no meio do tempo
Sem uma referência
Éramos a perfeição da existência

O tempo passou
Você se foi, e de mim, pouco restou
E eu me martirizo agora
Pensando: poderia ter evitado?

E hoje, as pressões ainda incidem
E as preocupações ainda existem

Sinto-me longe, impotente
E isso me consome
Quem vai te alertar dos perigos?

Eu sonhei com esse tempo
Quando não havia temor
Uma época feliz, tão longe do real obscuro

E agora, onde foi parar o amor?
Algum de nós seguiu nossos planos para o futuro?


2) Revivendo o passado

Em seu nascimento era belo
Belo como jamais poderia se imaginar

E tudo que fazíamos dava certo
Não havia um ponto de atrito, nenhum rasgo aberto

Perdíamos tempo falando sobre o que estaria pra chegar
Sobre o que faríamos
Onde estaríamos
E o que o tempo nos faria virar

Sinto que estou caindo num buraco
Mas hoje não encontro mais sua mão para me salvar

E se eu gritar socorro, vai adiantar?

Como era vivo aquele presente
Em que nenhum de nós
Em momento algum era ausente

Tudo tinha graça
A maior vontade era ver um sorriso no seu rosto
E agora, que morremos assim, de desgosto?

Sinto como percorrendo uma espiral sem fim
Mas a cada vez que posso olhar para trás
Vejo-o mais distante, mais longe de mim

Será tudo só um sonho ruim?


3) Encarando o presente

E, então, eu acordei.
E percebi que não havia adiantado dormir, pensando que o problema ia se resolver. Suas pegadas não mais acompanhavam meus pés.

E não posso dizer que não tentei. Tanto me esforcei, oh, tanto, que, enfim, chorei. Mas minhas lágrimas não puderam te salvar.

E agora, espero que caminhe nos campos do Paraíso.

Será que um dia vou parar de me culpar? Eu te puxei, agarrei. Mas no fundo, você não respondeu. Uma incógnita em seu interior, porque não quis me escutar?

Eu lembro, eu tive que gritar. Mas seus olhos profundos estavam fechados. Fundos, perdidos no ponto cego da sua inconsciência. Você ao menos me ouviu chamar? Desesperado, bati nas paredes, tentei te alcançar. E agora, o que devo fazer? Como prosseguirei sem você?

De lábios cerrados, e a face voltada para o chão, fiz uma trilha de lágrimas, enquanto carregava seu caixão. Oh meu Deus, então não existe compaixão? Ainda hoje ouço as palavras do reverendo, vejo os sinais da bênção, e, antes, seu corpo estirado, sua face sem expressão.

E agora, espero que caminhe nos campos do Paraíso.

O tempo passou, implacável. De mim e você, pouco restou. Mas é inevitável, olhar para trás e ainda ver a marca de seus passos, sentir sua presença. Devo parar com essa ilusão? Terei virado refém da minha própria imaginação? Queira Deus que não.

Longe de você, continuei a viver. Tento carregar comigo as boas lembranças, tento me lembrar apenas dos momentos felizes. E quando não consigo, irrompem as lágrimas. Infelizes. Talvez meu maior desejo fosse passar mais uma noite, só uma, em sua companhia.

Às vezes, no meio da madrugada, converso com você. Sei que não pode escutar, mas tenho poucos recursos. Por meio desse devaneio, tento me conformar. Por mais que eu tente, sei que a dor é forte, impossível de expressar.

Houve um tempo feliz, em que nós estávamos em paz.

Eu não estou em paz.

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