18 de janeiro de 2009

Mudança de estação

Correm pelos céus as notícias
E de um ponto a outro do globo
Famílias choram em seus aposentos

Tímido e escondido, o sol pouco a pouco
Se transforma na mais feliz das memórias humanas
E vira quase uma lenda, quando a neblina espessa
O prende no calabouço profundo

Na noite que se segue
O fantasma da monotonia prossegue
Sua profissão de espalhar agonia

No fundo do abismo
Onde pensam estar protegidas
Milhares de νεράιδες
Entoam seus cânticos de desespero
Clamando pelo sossego
Ou uma simples ajuda divina

Mas nos dias que se seguiram
Os céus enegreceram


Ao redor de suas fogueiras coloridas
Os mascarados dançam
Sóbrios de esperança
Inocentes como uma criança

Na torre do castelo, dentro de um quarto iluminado
A princesa na janela balança o lenço para a lembrança do amado
E sussurra tristemente: “Esperarei por você, estarei com você”

Encerrados em suas moradias
Sofrem as sobras de humanos
Que nada mais podem fazer
A se prender às TVs
Que ironicamente, um dia, elegeram como guia

Isolada em uma casinha distante
A mãe com seu coração conflitante
Dá uma última olhada desencantada para o horizonte
E fecha a janela
E segue até a cama de seu filho
Disfarçando as lágrimas, dá-lhe
O último beijo de boa noite

E nos dias que se seguiram
As terras, os mares, os seres ruíram


Nenhum caminhante mais sobe sobre a poeira vermelha
Nenhum sonâmbulo mais perdido em seus pesadelos
Nenhum fantasma mais com o peso de suas eternas vigílias
Nenhum moribundo mais sofre a progressão de suas necroses

E nos dias que se seguiram
Os céus desabaram

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